“São livros, Senhor! São livros…”

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A situação atual é preocupante: o sistema educativo está cristalizado. O principal problema não está já, apenas, no acompanhamento da realidade económica e das suas necessidades no futuro. Trata-se, acima de tudo, de promover e potenciar a realização plena dos indivíduos (“nativos digitais”) e de corresponder às suas necessidades humanas. E, assim, tão simplesmente, resolvem-se em simultâneo os problemas estruturais do país e salva-se o futuro.
O assunto está gasto. Todos sabemos quais os problemas da Educação. Adiar terá um preço bastante elevado, a médio e a longo prazos. Não se pode adiar mais.
O livro de Daniel Adrião, “Um novo paradigma educativo para Portugal no século XXI” (Educanology), lançado no passado dia 12 de setembro, apresenta-se como um marco decisivo para a mudança que se exige: expõe dados acerca da situação atual (nacional e internacional) e apresenta propostas para o futuro. E os dados atuais relativamente ao nosso país são muito preocupantes. Por exemplo, como expõe Daniel Adrião, se considerarmos apenas os manuais escolares – cerca de 10 milhões por ano – estamos a promover uma pegada ecológica anual que corresponde a cerca de 65.000 árvores abatidas e à produção de cerca de 200.000 toneladas de CO2. Mas não só. O manual escolar é um peso excessivo. Literalmente, para as costas das nossas crianças (que só deviam transportar até 10% do seu peso!), mas também para a economia nacional. Os manuais escolares são efetivamente um peso financeiro para as famílias e para o Estado que, só ao nível da Ação Social Escolar, assume cerca de 65% (em 2016/2017 correspondeu a cerca de 37 milhões euros do Estado Central mais 10 milhões investidos pelas autarquias, o que perfaz um investimento estatal na ordem dos 47 milhões de euros).
Existe hoje um conjunto de ferramentas digitais que devem entrar na escola. Desde logo, porque a literacia digital é fundamental na formação humana e cívica dos indivíduos. A possibilidade de aceder a plataformas de informação e comunicação é um recurso exponencialmente importante, promotor de novas abordagens e de uma cosmovisão mais universalista. Depois, em termos práticos, o que se perspetiva ao nível do mercado de trabalho num futuro próximo é esclarecedor: na OCDE (onde se integra Portugal) 57% dos postos de trabalho estão suscetíveis de serem automatizados; na Índia são 69% e na China 77%.
A transição dos manuais escolares físicos para os digitais irá promover uma melhor gestão dos recursos gerais assim como também a potenciação da inovação e o desenvolvimento de setores económicos como a produção e a criação de hardware, de software e de conteúdos digitais (gráficos, áudio e vídeo), a promoção de emprego qualificado, uma maior ligação entre as escolas e as famílias, assim como também entre todos os agentes educativos. O mais importante, acima de tudo, seria a alteração do paradigma educativo que iria ser iniciada. A desmaterialização dos manuais escolares não é a única medida, mas é um passo fundamental para se iniciar a mudança.
Os cirurgiões vão continuar a existir, mas atrás de um monitor. O cirurgião do séc. XIX já hoje não reconheceria um bloco operatório. E os de hoje não reconhecerão os do futuro (muito próximo, diga-se). No entanto, o professor do séc. XIX (enfim, para não recuar mais no tempo…) continuaria hoje a reconhecer a sala de aula… Uma imagem já popularizada mas que nos confronta cruamente com a realidade entre o sistema educativo e a realidade do mundo do século XXI.

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