Os indicadores são isso mesmo: indicadores. Constituem uma sistematização estatística relativamente ao estádio em que se encontra um determinado objeto de análise tendo como referência um padrão desejável e/ou outros objetos de comparação.
Portugal e os indicadores são um enleio de disparidades e heterodoxias. O facto é que o paradigma não permite inovações nem abordagens alternativas, mesmo que estas sejam mais justas socialmente, ambientalmente saudáveis e globalmente mais prósperas (responsáveis, sustentáveis) que as vigentes. Portanto, se o país não vê ser possível ou não está disposto a assumir a sua independência resta assumir esses indicadores e agir. Se não é o que tem feito em todos os setores, já quanto ao deficit – um mero indicador de perspetiva – somos um exemplo a seguir (seja lá o que isso significa para a vida real das pessoas e para “a consolidação e o crescimento da economia portuguesa”).
Os indicadores de “desenvolvimento” estão indexados a determinados padrões definidos e impostos pelo ocidente – que se baseiam no crescimento económico e o pretendem potenciar – definido pelo próprio status quo, o sistema está bem como está e recomenda-se. Há vários indicadores que nos devem interessar. Mas há dois que são muito curiosos pela relação que poderá não fazer qualquer sentido para a maioria da população. Refiro-me aos indicadores culturais e aos indicadores económicos. Em ambos, Portugal evidência estar na cauda da Europa.
Em Portugal lê-se pouco, vai-se pouco ao teatro, à dança, ao jazz e à música “clássica”. Portugal é um dos países que menos investe na cultura. Em Portugal os empresários são os que evidenciam menores índices de escolaridade; Portugal tem uma das mais baixas taxas de licenciados, de pós-graduados e de doutorados. A investigação científica é uma atividade precária (em transformação, é certo, o que reduzirá drasticamente o número de investigadores e talvez coloque em causa algumas unidades de investigação).
Parece portanto evidente que a cultura que somos está intimamente relacionada com a economia que temos. Uma influência a outra. Sem cultura não há economia. E tudo começa com cultura. Tudo: a forma como pensamos, como vemos o mundo e como o moldamos, como vemos os outros, como criamos, como desempenhamos as nossas funções e atividades (das mais simples às mais complexas do quotidiano).
O desenvolvimento cultural não está relacionado com a formação académica. Por estranho que pareça… E vários exemplos e factos temos que o comprovam… falta… cultura. Falta “mundo”, falta “universidade” (no verdadeiro e originário conceito do termo). Falta-nos essa exigência de saber um pouco mais sobre o que nos rodeia (sobre os problemas atuais) para podermos opinar com critério e de forma fundamentada.
Promover a prosperidade económica, mesmo que seja neste sistema, passa pela promoção da estimulação cultural dos cidadãos. Passa pelo investimento cultural de fundo, com estratégia de longo alcance e de impacte a curto prazo.
Não aprecio os exemplos de fora para justificar o que devíamos fazer no país: cada situação deve ser analisada concretamente e ponderada devidamente a sua aplicação em Portugal. Todavia, culturalmente existem bons exemplos em todo o mundo em que a promoção da cultura promoveu, a longo prazo, o capital humano e, consequentemente, a prosperidade económica. Mas para isso, é preciso cultura…