Faz por estes dias um ano que os órgãos municipais tomaram posse, renovando-se o mandato da maioria PS/CDU que tem governado a Câmara Municipal. Depois de um primeiro mandato frouxo, onde foi evidente a manifesta incapacidade para definir uma estratégia tendente a introduzir melhorias relevantes no concelho, nas áreas da sua competência: qualidade de vida dos cidadãos, reabilitação urbana, requalificação do património, atração de investimento, etc,. não era expetável que, sendo a equipa a mesma, as coisas se alterassem significativamente. E olhando para o que tem sido este mandato, as baixas expetativas confirmam-se. Como se confirma a aversão a fazer uma gestão democrática da CMC, com respeito pessoal e institucional pelos vereadores que não têm pelouros atribuídos, com debate aprofundado dos temas, depois de adequada partilha de informação.
Diga-se que, do que é possível apreender por quem já participou naquelas reuniões durante quase 4 anos, parece mesmo que as coisas se agravaram, sendo cada vez maior o desrespeito pelas posições dos vereadores da minoria, que representam, como os da maioria, os munícipes que neles confiaram. E este modo de atuação tem necessariamente consequências para o desempenho da autarquia, que se mostra cada vez mais paralisada. É este o contexto geral que, em meu entender, permite explicar o que se passou com a deliberação da passada semana que não aprovou o projeto de loteamento para a transformação do antigo edifício da EDP no início da Rua do Brasil, desativado há anos, em 349 unidades habitacionais para estudantes.
Parece não merecer discussão que a única maneira de fazer renascer a baixa da cidade, que se encontra moribunda, é voltar a trazer pessoas para aí morar e trabalhar. Por mais festas, certames, exposições de fim de semana que se façam, turistas que passem para e da universidade, a baixa, a alta e zonas adjacentes continuarão praticamente na mesma. Só com a vivência coletiva trazida por residentes se renovará, de forma estruturada e permanente, esta parte nobre da cidade. Foi o afastamento forçado das pessoas que aí residiam, deslocadas ou estimuladas a partir para uma periferia urbanisticamente desqualificada, em resultado de forte especulação imobiliária, que levou ao estado comatoso que aí se vive há mais de duas décadas. Por isso, desconhecendo em pormenor o projeto e programa colocados à discussão, as razões publicitadas pelo PSD e Somos Coimbra (inexistência de estacionamento), atendendo ao local e ao fim do empreendimento, são claramente curtas para bloquear uma decisão tão relevante. As razões da CDU são ainda mais incompreensíveis e estranhas, quando, partilhando o poder desde 2001, de forma geralmente acrítica, sempre com o pelouro da habitação, primeiro com o PSD e agora com o PS, exige uma clarificação do “modelo de desenvolvimento e de intervenção urbanística para toda a alta e baixa”. Então, ao fim de tantos anos, ainda não sabe que o PSD e o PS não têm, nunca tiveram, nem terão, qualquer ideia sobre tal “modelo”, governando à vista e no casuísmo mais puro!!! Mas isso nunca foi impeditivo de com eles partilhar o poder, ou não é assim?
O que a não aprovação do projeto em causa revela, pois, é que esta maioria se esgotou, face às suas políticas e à total incapacidade de liderança do seu presidente, que, na sua posição majestática e arrogante, não dialoga, não informa previamente, não debate os temas. Em suma, não é capaz de gerar qualquer consenso. Por isso, quando o PS vem manifestar a sua indignação com o que se passou, devia antes indignar-se consigo mesmo. E olhar ali para o lado, onde os “jardins do mondego” continuam em ruínas; olhar também para os edifícios adquiridos pela autarquia na baixa da cidade da cidade, há anos, para instalação de serviços, que continuam devolutos; para a antiga “Manutenção Militar” que continua abandonada, etc. E talvez assim os munícipes pudessem olhar com esperança para o futuro da sua cidade.