O CDS-PP já propôs uma comissão de inquérito parlamentar para apurar tudo sobre o caso de Tancos. Apesar das insistências e exigências de cabal esclarecimento feitas pelo Presidente da República, e ainda apesar do exaustivo relatório do governo intitulado “Tancos 2017: Factos e documentos”, o que é certo é que o maior assalto a armamento militar deste século no continente europeu foi cometido há quase ano e meio e ainda não se sabe o que verdadeiramente aconteceu. De acordo com o Comandante Supremo das Forças Armadas Marcelo Rebelo de Sousa, “a memória não prescreve”. A ver vamos.
Depois de desvalorizar, de dizer que nada sabia, de tentar encerrar o assunto, o Governo, através do Primeiro-Ministro e do Ministro da Defesa, bem como do próprio Chefe do Estado Maior do Exército, garantiu ao País, à Assembleia da República e aos países parceiros de Portugal no quadro da Aliança Atlântica e da União Europeia que todo o material furtado havia sido recuperado.
As negações, omissões e contradições dos factos praticadas pelo Governo ao longo deste processo foram constantes e sistemáticas, nomeadamente quando o Ministro da Defesa Nacional admitiu que “no limite, pode não ter havido furto nenhum”.
É preciso apurar e esclarecer. É demasiado mau ficarmos pelo descaradamente ridículo. Sem necessidade de confundir a justiça com a política, um inquérito parlamentar faz todo o sentido.
O que não faz sentido nenhum é ter um Governo que se esconde atrás da necessidade de aguardar pelo resultado do inquérito judicial mas, ao mesmo tempo, usou um comunicado da Polícia Judiciária Militar a ver se encerrava o caso do assalto a Tancos, sem esclarecer cabalmente o Parlamento e os Portugueses, nem tão-pouco retirou quaisquer responsabilidades políticas.
Depois de mais de dez audições parlamentares, o que não faz sentido nenhum são as contradições que têm vindo a público. Continuamos sem perceber o que o Governo não sabe, mas que supostamente devia saber, ou preferiu nem saber quando devia saber. Também se desconhece o que o Governo não sabe porque lhe foi ocultado, quando, por quem e com que consequências.
Por isso, faz todo o sentido apurar responsabilidades. É obrigação da Assembleia da República, no âmbito das suas competências de fiscalização dos actos da Administração Pública e do Governo, constituir uma comissão parlamentar de inquérito que permita que se alcancem respostas sobre o que falhou, por que é que falhou e por responsabilidade de quem.
Faz todo o sentido.