A denúncia de uma alegada e antiga violação de uma jovem americana, por um dos maiores futebolistas de sempre, num grande país em que os escândalos sexuais atingem com frequência políticos (e até presidentes), desportistas, artistas, milionários e demais, continua a dar que falar. Mas qualquer caso de abuso sexual é diferente dos outros, mesmo se alguns parecerem similares, por as diversas “partenaires” demorarem “anos” a contar o que lhes teria acontecido. E se há sempre que diferenciar atos sexuais consentidos, dos impostos a quem deles se quer esquivar, a onda de falso pudor sexual que alastra por todo o lado, faz pensar se, por detrás de certas denúncias, por nestas não haver qualquer inocência, não haverá apenas grandes cobiças.
Quando alguém é acusado de abuso sexual, mesmo que depois se prove ser inocente, a sua vida nunca mais será a mesma, pelo impacto havido na vida das famílias e na imagem pública de quem dela dependa para trabalhar, e pelo natural repúdio social deste tipo de abusos. Já quanto à rejeição que há contra os que assumem orientações sexuais diferentes, por ser matéria do foro individual, deviam as sociedades tolerantes e democráticas respeitar o direito de se ser diferente.
No caso da acusação de abuso sexual ser provada em tribunal, os culpados são arrasados, mas as consequências das sentenças, sendo terríveis para todos eles, afetam sobretudo os mais célebres, já que as multidões de fãs e seguidores que os idolatram ao longo do mundo passam, num ápice, da perplexidade inicial ao desapontamento final. Pelo que, se quem vem projetando o nome de Portugal por todo o lado, vier a ser condenado por um daqueles atos, a frustração nacional será inenarrável. Oxalá que, quanto à tese da incrível violação, a acusação da americana seja falsa.
Entretanto, vão surgindo detalhes que adensam dúvidas sobre um caso que atingiu alguns clubes de futebol, uns por as suas ações estarem a descer a pique nos mercados mobiliários, outros por investigações jornalísticas que levantaram as maiores suspeitas. Pelo que ninguém sabe agora se terá havido, e se não haverá de novo, oportunismo de quem poderá ter permitido atos sexuais, entendendo depois dizer que não ao que estivesse a acontecer. Ou se não terá havido indevidos aproveitamentos, de “hackers” e de outros, de atos sexuais havidos com uma jovem que atraia e acompanhava ricos e ilustres, num luxuosíssimo hotel. Ou se afinal, esta disse apenas a verdade.
Hoje, mesmo quem não é rico nem famoso deveria descrer de certas ofertas de favores sexuais, por não haver almoços grátis e porque há atos que, mesmo consentidos, podem denegrir quem os pratica. E atenção, que assédios e abusos sexuais não são atributo exclusivo dos homens. Mas como a maior parte destes esquece as suas vivências com mais facilidade do que a maioria das mulheres, certamente que não se verão muitos varões a culpar mulheraças de assédio e abuso sexual, em contextos de trabalho ou outros. Mas sendo as damas riquíssimas ou poderosíssimas, e se a ganância imperar como agora, haverá cada vez mais alcovistas que, para “faturarem mais uns cobres”, desvendarão proezas sexuais mantidas com tais senhoritas. E alguns poderão dizer depois que ficaram traumatizados para sempre, sem recuperarem de estados de prostração física e de depressão mental em que passaram a viver desde então. Coitados, pois terão perdido tudo!
Mas quando uma mulher que não foi “call girl”, mas talvez perseguisse o “american dream” de enriquecer, diz que disse que não, no decurso de um ato que teria consentido, e afirma depois ter sido violada, sendo o ato sexual assumido pelos dois parceiros, porque celebraram um acordo de compensação? Sexo e futebol. Mistura explosiva! Mas o “jogo” que está em causa parece uma negociata de contornos tão difusos que parecem duvidosos, ou mafiosos. E no meio de tantas trapalhadas, estará aquela mulher, e aquele futebolista, a dizerem toda, apenas, e só a verdade?