Opinião: Se Deus quiser, mesmo que a Câncio não goste

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Se Deus quiser’, sim, como cantam os poetas, o Chico Buarque ou a Rita Lee, ainda que não seja na TV da paróquia. Paroquiana pareceste-me tu, Câncio, a verdadeira beata, de roda do Senhor Engenheiro, rogando-lhe bênçãos e favores.

À mulher de César não basta ser séria e, por isso, vê lá se te enxergas. Cuida antes da aparência e deixa os moralismos bacocos para as manas Mortágua ou para a Isabelinha, que elas dão conta do recado, para meu grande enfado… porque esse, sim, é o preço da democracia que eu estarei sempre disposta a suportar, mesmo que julgue que aquela autoestrada de pregões do politicamente correcto desembocará num beco sem saída repleto de populismos perigosos, que todos maldiremos em breve.

E, aquelas, que se saiba, poderiam desposar o César, sem medo das aparências. Já tu, tens em dívida expiações várias, pagas de muitas mercês.

Confesso-te, Fernanda, não consigo ouvir-te nunca sem me lembrar da tua insolente resposta ao Engenheiro, a propósito do tal apartamento no Chiado, “um buraco és tu”, enquanto gozavas à pala do Zé, o tal que, nas tuas próprias palavras “mentiu, mentiu e tornou a mentir”. A somar a tantos e tão capitais pecados (da luxúria à avareza, ira e soberba), mostraste uma desfaçatez e uma deslealdade notáveis.

E esta lembrança das façanhas do Marquês confronta-me sempre com uma dúvida que me atormenta, pois sendo eu uma defensora convicta das garantias processuais e estando eu convicta da culpa do Engenheiro, pergunto-me amiúde o que pensaria eu da Operação Marquês se não tivesse lido e ouvido o pedido de envio de umas quantas ‘garrafas de vinho num envelope’ ou de ‘pressa nas obras do apartamento em Paris’.

Por isso, olho agora com cautela para o despacho do juiz Ivo Rosa que veio há dias proibir, aos jornalistas, “a reprodução de peças processuais, incluindo gravações audio de diligências, ou documentos incorporados no processo”, percebendo-o tão bem quanto receio o seu desfecho.

Entretanto, o seu antecessor, o Super Juiz, falou aos jornalistas, de novo. Falou demais e largou-nos em apuros, pois aquela amena cavaqueira há-de ter sido bem pensada e previamente ajuizada, com o propósito de nos deixar a todos abananados face a uma justiça desnudada, exposta a ventos de egos inchados e a abanões de interesses ocultos. Aquela, a justiça, cada vez mais despojada de almas destemidas e caracteres impolutos, está numa grandessíssima alhada e, periclitante, no meio da ponte, mais parece o pobre tolo, a um passo dos tentadores ‘ajustes de contas’ e a uma pernada do ‘reinado dos direitos absolutos do arguido’, onde se quedará refém de justiceiros ou habilidosos.

Ora, se o juiz Carlos Alexandre está convencido de que só ele poderá fazer justiça no caso Marquês, não poderá restar-nos qualquer dúvida do que terá fundado este peculiar convencimento. Porque, se estivermos perante um homem infectado por uma qualquer moléstia amplificadora de egos e deformadora de visões, menos mau: alguém o mandará desinchar para Mação, espero!

Pior será, porém, se viermos a concluir que há razões sérias para a desconfiança do juiz dos famosos (não obstante aquele estilo ‘Me, Myself and I’ que sempre exigirá profunda ponderação, quiçá durante os ‘Terços da Farinheira’ que o magistrado não dispensa) e que a justiça lusa está gravemente enferma, sem que se descortine uma inoculação eficaz para uma doença fatal que nos retira a confiança nas instituições e a fé num Estado de Direito amadurecido, capaz de se renovar.

Até lá, a justiça continua em apuros e o país também.

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