Mais uma semana fértil em tristes pantominas… o Brasil ensanduichado entre duas aberrações, a salganhada de Tancos, o sinistro acordo do CR7…
Em Tancos, a procissão ainda vai no adro e, como não há cristão que aguente os barrentos pés do Azeredo, aposto que o santo cairá do andor mais dia menos dia. E, só por isso, guardo o cortejo para futuras núpcias. Sobram-me, por cá, a triste cena do nosso menino prodígio e uma réstia de esperança, de que se trate de uma mal-intencionada ficção, de que por agora não abdicarei.
Ao som da ‘Ideologia’ do Cazuza (Meus heróis morreram de overdose/Meus inimigos estão no poder/Ideologia/Eu quero uma pra viver), penso nos ‘nossos irmãos’ do outro lado do Atlântico e contorço-me de vergonha por eles, e também por nós, e ainda por todos os outros que, por esse mundo fora, vão abdicando de ideologias e trocam a democracia por uma réstia de esperança envenenada que ameaça a Humanidade. Não há esperança em Bolsonaro. Bem sei que a alternativa é um outro palerma, um idiota chapado que se passeia com o Lula estampado na t-shirt e que corre para a prisão para preparar a segunda volta, mas nada nem ninguém me convencerão da vantagem de entregar a sorte de um povo nas mãos de um racista, misógino, homofóbico, incitador de ódios e violência. Não posso julgar o desespero dos seus eleitores, mas posso julgar o idiota que diz:
“Eu jamais violaria você, não merece, você é muito feia”,
“Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí, eu seria incapaz de amar um filho homossexual”,
“Os afrodescendentes nem para procriadores servem”,
“As minorias têm que se curvar às maiorias ou, então, desapareçam”,
“Eu sou favorável à tortura”,
“O voto não vai mudar nada neste país… só vai mudar com guerra civil”,
“Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, aí, no quinto, eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”,
“Se um casal homossexual morar ao seu lado, isso desvaloriza a sua casa”,
“Se o filho começa a ficar assim, meio gayzinho, ele leva um couro e muda o comportamento”,
“Muitas crianças adoptadas por casais gays vão ser abusadas por esses homossexuais”,
“O Brasil não precisa de leis contra a homofobia porque a maioria dos homossexuais é assassinada pelos seus cafetões, em horários em que o cidadão de bem já está dormindo”,
“Índios fedorentos, eles deviam ir comer um capim ali fora para manter as suas origens”, ou
“Haitianos, senegaleses, bolivianos é escória do mundo que está chegando ao Brasil”.
E julgo-o, sim, como um comprovadíssimo e grandessíssimo idiota. E julgo também todos os salafrários que o pariram, nesta praga anunciada (ou não fosse Messias o nome do meio de Jair Bolsonaro), cultivada por todos quantos contribuíram para o desastre brasileiro. Outros idiotas, comprovadíssimos e grandessíssimos também!
Só não julgo o povo que, perseguido por uma economia trágica, uma corrupção desembestada e uma criminalidade galopante, foge desesperado. Lamento, sim, que corra sem rumo e se encaminhe para o abismo da terra do ódio, porque, aí chegado, restar-lhe-á apenas a Lucidez de uma qualquer epidemia branca (semelhante à do Ensaio do nosso Nobel da Literatura) que questione a própria democracia.
E lamento que, deste lado do mar, também nos deixemos acorrentar por um bando de pequenos idiotas, ‘da direita, da esquerda e do meio’, que vão empurrando a desgraçada da democracia, adoecida, para o fundo do tal abismo, onde nós também jazeremos se não os soubermos enfrentar.
ALERTA! Os grandes idiotas estão a chegar…