Sua Excelência tem posto em evidência que é um homem sensato, inteligente, gerador de afectos, responsável e inteligente. Tudo posto em evidência, porque se candidatou a Presidente da República e ganhou as eleições sem a subordinação ou dependência de qualquer partido político.
Daí resulta que o nosso país está numa crise profunda e que é necessário constituir um Governo em que participem todos os partidos, a designar de centrípeto ou de solidariedade nacional.
Dentro de um ano há eleições. As greves avolumam-se… Por pouco não é aprovada na Assembleia da República a eutanásia. Só por quatro votos é que não passou.
As greves, a um ano das eleições, são o prato do dia da comunicação social. A violência, os suicídios por falta de trabalho, os sem-abrigo a aumentar, o Serviço Nacional de Saúde a deteriorar-se… A natalidade a diminuir… A oferta de cursos superiores, em todos os ramos, a aumentar, a imigração por falta de trabalho a crescer, afluxo de imigrantes, o despovoamento do meio rural, a agricultura destruída…. Porque será tudo isto? Porque os responsáveis pelo poder não têm conselheiros à altura, dado que, contrariamente ao passado, já são produto das cidades. Aproximadamente 50% do país concentra-se nas grandes cidades, particularmente Lisboa e Porto.
Senhores governantes, aqueles que melhor fazem e sabem fazer não são aqueles que mais sabedoria académica ou de outra natureza têm. O Senhor Presidente tem que ouvir os que produzem e mais sofrem e não apenas os que mais aplaudem.
Ocorre-me o sucedido entre nós os dois, aquando de uma exposição na Gulbenkian sobre a história das eleições presidenciais a seguir ao 25 de Abril, para a qual eu teria sido convidado. Após Sua Excelência ter visitado a exposição, ao aguardar no exterior a sua passagem, passa por mim, mas volta para trás e dá-me um abraço. Perante isto, tempo depois, facto que ocorreu na oração de um museu dedicado à Saúde, após ter sido agraciado, entre outros, com a Medalha de Ouro da Saúde, tive o impulso, já a findar a visita, de o procurar e pedir-lhe que me recebesse. De pronto, respondeu: “Quando quiser”.
Queria adverti-lo do que se estava a passar com a Saúde, que estava a entrar em agonia. Solicitou-se por várias vezes esse encontro e sempre recebi a resposta de que por condicionamentos de agenda não me poderia receber.
Antes de ser publicada a lei que eu designo da “Subserviência da Saúde”, que depois se generalizou a toda a estrutura do Estado, sendo eu ao tempo diretor do Hospital da Universidade de Coimbra, dispensando apoio político, pediu-me o Doutor Alexandre Gouveia para ir a Lisboa representar Coimbra, a dar um parecer sobre essa lei.
Dos 45 médicos presentes (creio) só 3 e de cabelos brancos votaram favoravelmente – e eram de Lisboa. Redigimos uma carta dirigida ao Senhor Primeiro Ministro a dizer que discordávamos. Essa carta nunca chegou ao seu conhecimento. Numa reunião das mulheres Sociais Democratas em que a minha irmã esteve presente, uma senhora gabou-se, como se tivesse feito uma grande coisa, que a tinha sonegado. Como resultado disso, nenhum médico do partido aceitou ser director por nomeação e o primeiro a aceitar ainda tinha aprendido comigo e foi para Vila Real. Era das chamadas esquerdas.
A minha inocência leva-me a admitir que quem marca as audiências não lhe dá conhecimento destas tentativas… Mas esse comportamento é trivial porque, em Coimbra, nem o Senhor Presidente da Câmara nem o Senhor Reitor têm tempo para nos receber, embora, cá fora o Senhor Presidente da Câmara seja muito afectuoso.
Poucos terão feito ou tentado fazer tanto como eu fiz ou tentei fazer.