Opinião: Opção ou recurso?

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A região de Coimbra tem um fortíssimo problema de competitividade. Esse problema é bem visível na incapacidade de atrair investimento produtivo, na atratividade da sua Universidade e na perceção da região como uma mais-valia. Tudo isso é agravado pela total descoordenação entre organismos da região, pela total ausência de estratégia e pela incapacidade de criar uma imagem nacional e internacional de uma região onde vale a pena investir, estudar e viver.
A Universidade de Coimbra registou um número elevado de entradas na 1ª fase do acesso ao ensino superior. Na verdade, das 3257 vagas que tinha a concurso, preencheu 3184 (sobraram para a 2ª fase 113 ), registando 3469 candidatos de 1ª opção. Isto significa que preencheu a generalidade dos seus cursos e teve mais candidatos de 1ª opção que vagas disponíveis, o que, em média, correspondeu a 1.1 alunos de 1ª opção por cada vaga. Na universidade do Porto esse número foi de 1.7 alunos de 1ª opção por cada vaga, mas, como sabemos, há diferenças demográficas que podem explicar essa diferença. Coimbra é uma cidade desorganizada, de onde desapareceu a indústria, que não tem consciência da importância de responder às valências que os jovens procuram no local que escolhem para essa fase importante das suas vidas que é a frequência universitária. Valências na área desportiva, cultural, de atividades lúdicas, ao ar livre, eventos variados, etc., que criem um ambiente cosmopolita e excitante. Acresce que são cada vez mais significativas as dificuldades que um estudante encontra para se instalar na cidade e, na maioria dos casos, não são muito claras as mais-valias de estudar e viver em Coimbra. Tendo em linha de conta o já referido problema demográfico, tudo isto contribui para a menor competitividade da região de Coimbra relativamente às suas congéneres do Porto, Braga, Aveiro, Guimarães e Lisboa.
Com o objetivo de evidenciar o impacto na competitividade da Universidade de Coimbra, fui ver em pormenor (site da DGES) as entradas em alguns cursos emblemáticos da nossa universidade. Por exemplo, considere-se o curso de Medicina, que é um curso tradicional e muito importante para uma cidade que tem na saúde uma das suas áreas prioritárias. Este curso apresentou 255 vagas a concurso, às quais concorreram 1353 candidatos (a média do último colocado foi 17.7 ). Com o objetivo de perceber se o curso é competitivo, ou seja, se é escolhido em 1ª opção pelos melhores alunos nacionais, fui ver o detalhe dos primeiros 255 candidatos (ou seja, o número de candidatos igual ao número de vagas) do curso de medicina da Universidade de Coimbra. Verifiquei coisas espantosas. Nos primeiros 30 candidatos, isto é, nas 30 primeiras melhores notas, não há nenhum candidato que coloque Coimbra como 1ª opção. A maioria desses alunos coloca Coimbra na 4º, 5º ou 6º opção. De facto, o 1º aluno que colocou Coimbra como 1º opção foi o aluno que tinha a 39º melhor nota ( 19.1 ) da lista ordenada de candidatos ao curso de Medicina de Coimbra. Analisando a distribuição de opções dessa lista dos 255 primeiros candidatos ( 257 por causa dos empates) obtém-se o seguinte: alunos que colocaram Coimbra em 1ª opção ( 22 ), alunos de 2º opção ( 8 ), alunos de 3ª opção ( 58 ), alunos de 4ª opção ( 109 ), alunos de 5ª opção ( 27 ) e alunos de 6ª opção ( 33 ). Facilmente se percebe que nos primeiros 255 candidatos, 88,3% colocaram Coimbra em 3ª, 4ª. 5ª ou 6ª opção ( 65,8% colocaram em 4ª. 5ª ou 6ª opção), isto é, os alunos de 1ª e 2ª opção são somente 11,7% dos primeiros 255 candidatos. O curso de Medicina em Coimbra precisou de quase 900 candidatos para preencher as 255 vagas, sendo que a maioria das 1.as opções são de alunos com médias mais baixas, muitos dos quais não chegam sequer a entrar: em alternativa, entram alunos que não foram colocados nas suas primeiras opções e acabam por vir para Coimbra por isso.
Mas esse é um problema localizado? Vejamos, por exemplo, um curso da FCTUC: Engenharia Informática. Apresentou 130 vagas a concurso, às quais concorreram 641 candidatos (a média do último colocado foi 14.25 ). Fazendo uma análise similar à que foi feita para Medicina verifica-se que nos primeiros 30 candidatos existem 5 que colocaram Coimbra como 1ª opção, sendo os restantes de opção superior (a maioria – 21 em 30 – superior à 3ª opção). Fazendo uma análise dos primeiros 130 candidatos (valor igual ao número de vagas) obtém-se a seguinte distribuição: alunos que colocaram Coimbra em 1ª opção (22), alunos de 2º opção (12), alunos de 3ª opção (22), alunos de 4ª opção (25), alunos de 5ª opção (27) e alunos de 6ª opção (23). Ou seja, cerca de 74% dos primeiros 130 candidatos colocaram Coimbra como 3ª, 4ª, 5ª ou 6ª opção (57,7% se considerarmos somente a 4ª, 5ª ou 6ª opção), isto é, os alunos de 1ª e 2ª opção são 26% dos primeiros 130 candidatos. Engenharia Mecânica, para falar, por exemplo, de outro curso da FCTUC, tem valores muito parecidos aos de Engenharia Informática.
Estes números, cujo padrão se repete para a generalidade dos cursos, mostram que Coimbra não é particularmente competitiva. O desempenho não é mau, longe disso, mas Coimbra mostra muita dificuldade em distinguir-se e atrair os melhores. Isso tem várias explicações, incluindo demográficas e de imagem, mas coloca desafios muito importantes à Universidade e à cidade. Coimbra tem de ser uma mais-valia muito significativa para que os alunos e respetivas famílias considerem que vir para Coimbra vale a pena. Nessa perspetiva, considero que este assunto tem de ser central na ação e na estratégia da cidade, constituindo também um eixo prioritário da política reitoral. Na verdade, a Universidade de Coimbra, assim como toda a região, tem de refletir e ter uma estratégia realista, coordenada e bem definida para a captação de alunos, para a captação de investimento (que considera sempre o pacote global) e para uma relação muito mais proactiva com a economia e com a sociedade. Coimbra tem de ser opção e não (último) recurso. Coimbra 12/09/2018

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