Dizem as más línguas que, no século XIV, uma tal Joana de Nápoles, acusada de conspiração para o homicídio do marido, se terá refugiado na cidade papal de Avignon, onde aprovou uma lei que autorizava os bordéis, “os paços da mãe Joana”, decisão que originou uma fartura d’”os da Joana”, sítios de vício e confusão. Um granel!
Ora, já se sabe que os portugueses são uns pândegos galhofeiros e não desdenham de uma boa galderice. Sucedeu, porém, que naqueles tempos andávamos todos distraídos, decididos a calcorrear mundo (nada de ‘descobrimentos’, que a cachopada moderna não aprecia tamanha arrogância). E o tempo foi passando e o país foi acinzentando, tresandou a mofo até. Todavia, quando o país sacudiu o pó às farpelas e ganhou cor, vida, alegria, e tantas coisas mais, isto virou uma espécie de cabaré da coxa. Para a festança, foi-se usando a parca herança dos avós cinzentões e os favores de uns tios da Europa que estão de olho na nossa quintinha, à espera que lha entreguemos um dia, servida na mesma bandeja que tem abastecido os foliões. E entretanto, com uns patacos na algibeira, os Senhores De Todos Os Vícios fizeram da pátria um paço muito cobiçado. Políticos, empresários, banqueiros, saborearam a patuscada como ninguém. Sem pejo, multiplicaram-se as meretrizes e engordaram os proxenetas. Um folguedo!
E nós, filhos do povo, enganados pelos foguetes e pelas grinaldas, cá nos íamos queixando aos Senhores Da Justiça (uma gente de estirpe superior, dizia-se). E, os tais, os pretensos guardiães da democracia, vinham até acalmar os ânimos mais agitados. Pois que sim, falavam ao povo. E pois que não, que não havia razão para queixumes. Pois que sim, que havia uns quantos mais anafados, mas que era um atributo de família… Pois que não, que não nos apoquentássemos com a barriga alheia e, que sim, que havia umas escutas, umas fugas para o exterior, que aquilo às vezes parecia o Palácio de Buckingham… Mas, que não, que não nos arreliássemos, afinal… Que sim, que não, antes pelo contrário e viva a farra!
E nós, baralhados, maltratados, resignados, lá continuávamos de cravo na lapela, crentes na menina democracia, moça de boas cores, bonita, que a todos enchera de esperança nas últimas décadas.
O problema é que aquela jovem, mui prendada e promissora, fora há muito feita manceba dos Senhores Do Paço, os tais De Todos Os Vícios, uns azeiteiros pançudos que a tornaram refém e só a levam à rua para os banquetes dos mimos pré-eleitorais que mantêm o povinho pobrete mas alegrete.
E os Senhores Da Justiça, os guardiães do paço, supostos paladinos, tutores da menina democracia, sem escrúpulos, entregavam-na alegremente à bandidagem. Desonravam a fina estirpe e gozavam a vida airada, Rodrigues Cocó, Moura Ranheta e Monteiro Facada. Uma vergonha!
Até que uma outra Joana pôs ordem no paço e isto deixou de ser o da Joana, veja-se a ironia. Chegou e levou tudo de enfiada, Macedos, Vicentes, Ribeiros, Lalandas, Varas, Salgados, Sócrates e Companhia. Tudo a eito! Até o Benfica apanhou tautau. Mais pareciam os golos do Cristiano que “aparecem como o ketchup, todos de uma vez”.
Pois sim, dear Ronald Reagan (o tal que deu nome ao nosso Ronaldo), tu tinhas razão, “a política parece-se muito com a mais antiga profissão do mundo”, e por aqui, neste paço, frívola e leviana, a malta portou-se mal. Foi um fartar, vilanagem.
E, por isso, eu quero a Joana em campo, com o ketchup à mão, e os pançudos longe dos tachos. Para que isto não volte a ser o da Joana!