Opinião: As Aventuras de Pietro Querini

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A embarcação fora construída na ilha de Creta, por ordem do nobre veneziano Pietro Querini, tendo zarpado desta ilha mediterrânica no dia 25 de abril de 1431. Nesta época, Creta pertencia à poderosa cidade de Veneza.

No porão transportava essencialmente madeira, vinho e pimenta. Pietro Querini era o proprietário e capitão do navio. A bordo seguiam 68 marinheiros. Desconhecemos se algum seria português mas a presença de espanhóis, venezianos, franceses, e alemães está documentada. O nobre veneziano pretendia navegar até à Flandres a fim de aí vender a mercadoria e realizar assinalável lucro. Talvez Bruges (Bélgica), fosse o destino final, uma vez que, no século XV, Bruges apresentava uma pujança económica de bastante realce, aí acorrendo mercadores e mercancias muito variadas. Cidade rica, plena de abundante comércio, à semelhança de Veneza. Uma no norte, outra no sul da europa.

Há muitos anos que os venezianos navegavam até ao Mar do Norte. Em condições normais, uma viagem com estas características, ida e volta, deveria demorar cerca de dez meses. No entanto, no dia 9 de novembro, algo de inusitado iria suceder. Pietro Querini registaria essas aventuras num manuscrito que hoje se encontra guardado na Biblioteca do Vaticano.

No mês de junho acostaram em Cádis (Espanha). Em julho navegaram na zona do arquipélago das Canárias e no dia 29 de agosto de 1431, desembarcaram em Lisboa, onde repousaram e reabasteceram o navio, tendo zarpado no dia 24 de setembro, em direção ao norte. Neste segundo quartel do século XV, Portugal estava mesmo no início da sua memorável “Expansão e Descobrimentos”, tendo navegado apenas até à Madeira, Açores e Marrocos.

A 26 de outubro, atracaram em Muros (Galiza), perto de Santiago de Compostela, onde Pietro Querini, acompanhado por mais 12 companheiros, visitaram a catedral.

A viagem prosseguiu e depois de contornarem o Cabo Finisterra, foram capturados por uma violenta tempestade, antes de conseguirem entrar no Canal da Mancha.

Ao sabor das correntes, das ondas impetuosas, da chuva torrencial e dos ventos fortes, foram arrastados para nordeste, lutando pela vida, impotentes perante a força da natureza, refugiando-se na fé e no vinho. Semanas mais tarde e perante a água que inundava o navio, decidiram abandoná-lo e embarcarem na chalupa ( 47 pessoas) e no esquife ( 21 pessoas) existentes a bordo.

O desastre iria acentuar-se. Rapidamente foram levados pelas correntes, separando-se em dois grupos que nunca mais voltariam a encontrar-se.

A tempestade terminou no dia 18 de dezembro. Pietro Querini escreveu que começaram a navegar para oriente, na esperança de chegarem à Irlanda. Acabaram por desembarcar, no dia 4 de janeiro de 1432, muito mais a norte, numa ilha deserta e gelada, pertencente ao arquipélago Lofoten, na costa setentrional da Noruega, onde os poucos e sedentos sobreviventes se atiraram para o chão, desesperados, enchendo as suas bocas de neve. Desde que o vinho terminara, há semanas que estes homens só bebiam a própria urina.
Dezasseis sobreviventes, alimentando-se de restos de queijo, biscoitos e do que conseguiam retirar do mar, peixe e bivalves. Cabana improvisada com os restos das velas e da madeira da chalupa, com a qual iam mantendo uma reduzida fogueira.

Mais tarde, seriam recolhidos por pescadores de uma ilha próxima. Em janeiro de 1433 e após diversas peripécias, Pietro Querini e mais 10 sobreviventes, regressaram, finalmente, a Veneza.

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