Transcrevo de “A socialização da morte”, de Nuno Teixeira Neves, recebido em maio de 71, enviado do Porto pelo autor, um nome esquecido, cujo papel como pensador e jornalista foi importante na década de 60. “(…) A morte só não é um jogo quando já não vai ser a morte de um homem, mas foi a morte de um animal. Tudo então já está consumado e ninguém o sente. Não há, pois, conhecimento da morte a não ser jogando. Só as pedras são autênticas”.
Posto isto, declaro não ter a obsessão da morte. Ora, este mês fede a morte: foi há 73 anos que aconteceu o genocídio de Hiroxima. A que se seguiu Nagasaki. Colaborei na antologia editada em 1967 ”Hiroxima”, editada pela Nova Realidade, em Tomar. Foi retirada da venda pela PIDE, como muitas outras que enunciavam o fascismo, crimes contra a humanidade, a exploração.
Os tempos agora são outros. A música, os festivais não protestam contra, por exemplo, o drama dos migrantes, ou os inúmeros problemas gerados por esta acelerada modificação digital, em termos de segurança, trabalho, informação. O que interessa não é “avisar a malta”. A malta está “off”. Porém, o jogo mantem-se. Se não há Dresdens a arder, existem muitas questões, do desemprego à vulgarização da estupidez. Escreveu Pessoa: “ Pensar custa como andar à chuva”, mas molhem-se, por favor, um pouco mais”.