Opinião – Em tempo de férias (III): Góis, um caso a acompanhar atentamente

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No princípio deste mês foi celebrado um protocolo entre o município de Góis, uma associação florestal local, e uma empresa florestal subsidiária de uma das empresas de celulose, para a gestão de parques de biomassa florestal residual, a instalar ao longo deste concelho do interior.

Tendo gizado, há duas décadas, a primeira central termoelétrica a biomassa florestal residual do país (a de Mortágua), a notícia do protocolo fez-me recordar que fui então vilipendiado por altos responsáveis de celuloses e da sua associação, e acusado de querer arruinar tais indústrias, e a floresta nacional! Mas como nunca esmoreci, ajudei a construir e a gerir, não uma, mas quatro dessas centrais termoelétricas, e ainda hoje acredito nas vantagens da valorização energética de sobrantes de exploração florestal, e de muitos outros tipos de biomassa residual gerados no país.

Como os pavorosos incêndios florestais ocorridos em 2017 destruíram tantas vidas, e causaram danos ambientais, sociais e económicos tão elevados, este Governo teve de impor mais limpezas florestais, pelo que há que encontrar fins úteis para a imensa biomassa que desde então passou a ser recolhida. A exploração real dos futuros parques de recolha de biomassa florestal residual de Góis evidenciará se, e como, poderão matos e arbustos provindos de limpezas florestais, serem valorizados em centrais termoelétricas abastecidas, atualmente, com cepos, copas e ramos de árvores destroçados, nomeadamente nas de Mortágua, Figueira da Foz, Constança e Ródão, pertencentes à parceria entre essa celulose e a maior empresa energética que opera neste país.

Todavia, as autarquias já deviam possuir sistemas de valorização da biomassa florestal residual que não possa ser usada para gerar eletricidade, e que não seja incorporada nos solos, por muita desta biomassa poder, e dever, ser valorizada em pequenas centrais térmicas. Nestas, o calor gerado nas combustões aquece águas que circulam por redes de distribuição até casas, escolas e demais equipamentos dotados de permutadores de calor para climatizar o ar e aquecer águas sanitárias, após o que retornam às centrais para serem reaquecidas, em rentáveis ciclos sem fim.

Durante anos apresentei a autarcas e técnicos a simplicidade e viabilidade de vários tipos destas valorizações energéticas de biomassa florestal residual, que reúnem um conjunto de vantagens em termos de diminuir o risco de incêndio florestal, criar emprego local, gerar valor económico e prevenir disfunções ambientais. Oxalá que o acompanhamento atento do que vier a acontecer nos futuros quatro centros de recolha de biomassa florestal residual do concelho de Góis, mostre o que se deve fazer, para valorizar, em todo o país, a biomassa provinda das limpezas florestais.

Como existem inúmeras redes de distribuição domiciliária de calor (“district heating”) na União Europeia, a implementação destes sistemas entre nós nem será difícil, se os autarcas souberem adaptar o conhecimento de outras sociedades às especificidades dos seus territórios, em vez de continuarem a dizer que não será possível fazer o que, há tanto tempo, muitos outros fazem ao longo do mundo. Claro que haverá que estudar e inovar, mas nem será preciso inventar. Bastará quererem – e fazerem -, para melhorar o desempenho social, ambiental, económico e energético!

 

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