Lenço enxuto

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Escrevi há cerca de um ano que, apesar de agosto ser mais dado a férias, logo a um certo “entorpecimento do espírito”, este verão, de cheiro a queimado, de céu turvo e de lágrimas incontidas, obriga à ação de combate, à reflexão sobre as causas, à busca de soluções, ao reordenamento de procedimentos.

Escrevo num dia em que lavram 15 incêndios em Portugal continental, um dia a seguir ao primeiro-ministro dizer que Monchique “é a exceção que confirmou a regra do sucesso da operação de combate aos incêndios” (ai se a insensibilidade queimasse como o fogo…), dois dias depois de Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, ter substituído o comando, de distrital para nacional, cumprindo finalmente o que ficou estipulado em abril relativamente ao combate a grandes incêndios, após andar meses a preparar o dispositivo e a dizer que agora estava tudo muito bem (ai se a falta de sentido de Estado ainda levasse à demissão…), sete dias depois de ter tido início uma tragédia ainda sem fim à vista, no entanto mais que anunciada por especialistas (Monchique já ardeu em 1966, em 1990 e em 2003 ), e na qual estão envolvidos operacionais e meios terrestres e aéreos como nunca.

Escrevo numa cidade que pertence ao distrito mais afetado pelos incêndios de 2017, com 113 mil hectares ardidos, um quarto da área total ardida em Portugal, escrevo num país sempre mais dado a arranjar bodes expiatórios do que a encontrar os verdadeiros culpados, mais acostumado a remediar do que a prevenir.
Escrevo a ouvir “Lenço enxuto”, do primo Úria.

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