Opinião: Qual urgência ?

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Há ainda alguma confusão entre os conceitos de Governo e de Estado. O Governo é a estrutura política que se forma após as eleições legislativas com o suporte ou aprovação da assembleia da República entretanto composta. O Estado são todas as estruturas de serviço público tuteladas pelos respetivos Ministérios nomeados e empossados.

Quando um governo emite uma mensagem política implica que esta seja trabalhada com os respetivos serviços do Estado para que haja adesão à sua aplicabilidade. Este enquadramento serve para escrever sobre o que se tem passado a propósito das linhas de financiamento especial e pomposamente anunciadas para os territórios de baixa de densidade demográfica afetados pelos incêndios do Verão passado.

Assim, o Governo lançou ao tempo várias linhas de candidaturas destinadas a empresas daqueles territórios na perspectiva e boa intenção de dinamizar uma parte do País que se viu a braços ainda com mais problemas devido à tragédia dos incêndios que deflagraram e mataram dezenas de cidadãos inocentes.

Não tinha de o fazer. Mas, fez, propagando uma mensagem política forte , talvez na tentativa de atenuar dores políticas que provocavam um desgaste mediático demasiado elevado. Lançaram-se milhões de Euros para estas linhas, estimulando alguma dinâmica local e regional, em territórios onde por norma a iniciativa privada não abunda. Candidataram-se muitas centenas de empresas e projetos, entupindo um sistema de avaliação já de si precário e que não foi minimamente estruturado para esse trabalho adicional.

A prioridade política deu lugar ao bloqueio administrativo, sem que alguém em tempo útil tomasse medidas necessárias e eficientes. É isto que se passa em Portugal. Um desfasamento quase total entre o que o poder político diz e o que daí resulta. Passaram mais de 6 meses e praticamente nenhuma candidatura recebeu termos de aceitação , havendo mais algumas centenas por analisar , quando a mensagem política era de prioridade e urgência. É isto que mina o sistema e que afasta os cidadãos. É isto que descredibiliza os governos e o Estado. Não se percebe como é que perante o problema não se tomam medidas eficazes.

É caso para perguntar como é que alguém não pensou na estrutura de avaliação de candidaturas quando era evidente que o trabalho se iria multiplicar. Não se percebe como é que isto não é tema publico e alvo de oposição ainda que só local ou regional. Talvez seja esta mediocridade de deixar correr ou relativizar problemas graves que faz Portugal um país menos desenvolvido do que o que poderia ser.

Talvez seja este nacional porreirismo que nos mata a prazo ou que retira opções e oportunidades na região porque obviamente o tempo de demora vai fazer com que vários projetos caiam por mudança de circunstâncias, uma vez que na economia real corre tudo mais rapidamente do que esta aparente lassidão dos órgãos públicos. O que adianta lançar o dinheiro de helicóptero se ninguém desce à terra para perceber se este chega ao real destino? Não acredito que não se consiga fazer melhor do que isto. Desde logo, porque “isto” é mesmo muito mau.

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