Após umas férias excecionais a todos os títulos, e que certamente me revigoraram, fui colhido quando cheguei com duas notícias que me abalaram profundamente.
Embora com algum atraso, não posso deixar de referir a perda que representou para muitos de nós, a partida daquele que me orgulho, e me honra, poder tratar como Amigo, o Professor Doutor Agostinho Almeida Santos.
Seguramente que já muito se escreveu sobre a sua pessoa, mas não posso deixar de o referir aqui, pois tratou-se de alguém que me marcou ao longo da vida, de forma significativa.
Ainda como Assistente e Médico de minha Mulher, o Prof. Agostinho Almeida Santos sempre demonstrou o profissionalismo, e uma maneira de ser e estar nas suas atividades de Professor, Investigador e Médico, acima da maioria dos colegas com quem convivi.
Tratava-se de alguém que em cada momento que tínhamos o privilégio de com ele conviver, sentirmos a sua inexcedível vontade de ser Amigo.
Duas histórias simples, mas que podem ilustrar aquilo que foi a Sua vida.
Quando Presidente do Conselho de Administração dos CHUC, visitou a Unidade que eu dirigia e cujas condições de trabalho eram seguramente do pior existente naquela Instituição. No final da visita voltou-se para mim e disse: “Meu Caro Serpa Oliva, não sairei do Conselho de Administração sem que obras lhe sejam concedidas para melhoria das suas condições de trabalho e dos seus doentes.”. De uma forma absolutamente inacreditável, mas que demonstra bem a grandeza do seu caráter, demitiu-se do cargo por não concordar com as diretivas emanadas do Ministério da Tutela.
No dia seguinte, recebi da sua secretária a informação que o último despacho do Prof. Agostinho Almeida Santos, tinha sido, na véspera, contemplando uma verba para que as obras na Unidade que dirigia fossem realizadas.
Outra história…
A minha Filha mais velha teve dificuldade em engravidar. Após consultar o Prof. Almeida Santos, engravidou e nasceu o meu queridíssimo neto Mateus.
No dia seguinte, deslocou-se à Maternidade, a visitá-lo e disse à minha Filha – “Para o ano vai cá estar de novo com uma rapariga”. Este tipo de relacionamento e forma de ser só são acessíveis a um pequeníssimo número de pessoas, e por isso marcam o Mundo.
Tive o privilégio, antes de ir para férias, de o encontrar na Missa dos Franciscanos e, como sempre, em tom de brincadeira o chamar o “Pai dos Meus Netos”. Riu-se, com aquele seu ar tranquilo, mas percebi que já não se encontrava totalmente bem de saúde.
Não esperava sinceramente que a doença o levasse tão cedo. Morreu Gente, e nós que vamos por cá ficando, só nos resta curvar-nos perante a sua memória, pedindo a Deus que lhe conceda o lugar que amplamente merece na eternidade.
À Sua Família, Mulher e Filhas, um abraço forte de Amizade.
Pouco tempo depois partiu também o Colega João Semedo. Fomos colegas no Parlamento, e na Comissão de Saúde aprendi com ele uma forma de ser e de estar diferente da maioria dos deputados com quem convivi.
O João era um Homem Bom, que praticava o parlamentarismo na verdadeira acessão da palavra, buscando consensos, procurando pontes, e principalmente, respeitando a opinião dos outros.
Separados por uma montanha ideologicamente, respeitávamo-nos mutuamente, e recordo-me de uma pequena história, no fim de uma longa maratona na Comissão de Saúde, quando saíamos os dois juntos, que se voltou para mim e disse: “João, se fossemos só os dois tínhamos resolvido isto em 5 minutos.”.
Era assim o João Semedo, um Homem de Bem.
Tive a oportunidade de enviar uma mensagem ao meu Amigo José Manuel Pureza, demonstrando-lhe o meu pesar pela perda do João.
Penso que ele pertencia à Escola Miguel Portas, que certamente marcaram a Política Portuguesa nos últimos anos.
Também aqui me curvo perante a Sua partida e volto a pedir a Deus que o receba e lhe dê a paz e a eternidade que merece.
Não foi portanto, Caros Amigos e Leitores, um regresso, neste aspeto auspicioso, mas resta-nos a certeza de que ambos estarão hoje, seguramente em Paz e, embora de forma diferente, mais perto de cada um de nós.