Opinião: Elites e liderança

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A leitura da literatura sobre governação, algo que os jornais de fim-de-semana publicam para nos entreter, falam-nos de líderes que convencem os Povos a quem infelizmente faltam elites capazes de pensarem verdadeiras soluções, quer para os problemas das empresas quer do governo.

Estes não existem agora como vemos pela história recente da política e da vida dos negócios pois alguns dos “nossos melhores” mostraram uma espantosa falta de qualidades de administração. Levaram por isso bancos à falência ou fizeram quebrar a estrutura organizacional de muitas empresas, pedindo apenas que lhes permitissem pagar baixos salários e deixar de pagar somas enormes aos bancos, que lhas emprestaram sem prudentemente acautelarem que tivessem o seu retorno. Chegamos por isso à conclusão de que eram autênticos bluffs ou como diria Eça de Queirós uns pachecos.

Contudo, no início do século XIX, mais propriamente em diversos números da década de 1810 do Jornal de Coimbra, usando recursos muito rudimentares, havia gente formada em Coimbra, que era, como verdadeira elite, capaz de equacionar os problemas regionais. Faziam-no comparando situações com base no saber científico de então e eram por isso capazes de propor soluções que podiam desenvolver as vilas e cidades onde viviam e trabalhavam. Mas, antes disso mediam temperaturas e notavam:

“Em Maio, a máxima temperatura em Montalegre foi no dia 10 às 4 e ¾ horas da tarde, e em Coimbra no dia 19 às 3 horas da tarde. A mínima foi ali no 1.° do mês às 4 hor. da tarde, e aqui no dia 21 ás 7 e 3/4 hor. da tarde. IX. Foi maior o frio em Maio na Vila de Montalegre do que em Janeiro na Cidade de Coimbra; porque aqui neste mês nunca desceu o mercúrio no Termómetro a 4 e 3/4 graus como naquela Vila” ( 1 ).

Era com base nestas medições, conjugadas com outras observações e leituras de livros e revistas, que partiam para estudos, em que demonstravam conhecer bem os problemas das suas terras e, claro, as terapêuticas das moléstias que aí podiam acontecer.
Agora, nem sequer reparamos que quem nos governa, ou gere as empresas estruturantes da economia, não tem o saber necessário para nos levar a bom porto no mar global em que vivemos. Nem sequer vimos que não tinham a vontade de acertar nos objetivos declarados. Tinham e têm de facto outros propósitos que não disseram, nem dizem nem nunca nos dirão. Fizeram por isso acontecer este Portugal em que há um interior desertificado. Foi o que provocaram com medidas que foram decretando, vendendo-as como inevitáveis com auxílio da Imprensa e da Propaganda.

Prometiam sempre felicidade a rodos, sempre acompanhada de leite, mel e pão abundante. E disso convenceram o Povo anos a fio. Mas este já sabia que só tinha duas coisas a fazer: aguentar e/ou emigrar.

Agora prometem mudar e fazer o necessário para colocar tudo de novo nos trilhos de onde nos retiraram. Só querem voltar a comandar o País. Sabemos.

E é o que queremos como futuro?

( 1 ) Jornal de Coimbra, vol. V, n.º XXI, Setembro de 1813, pp. 82-83

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