O alojamento local foi um bom exemplo de como as pessoas pré-existem ao Estado, mas não sobrevivem aos filhos do Estado. Bastou alguém tomar a iniciativa de acompanhar uma tendência internacional, e logo muitos daqueles que dependem do Estado olham de lado com ar desconfiado e, pior, legitimam e dão força às intervenções políticas dos que não concebem a iniciativa privada. Cuba acabou de reconhecer o direito à propriedade privada, mas em Portugal há quem ache normal determinar a um proprietário o que pode ou não pode fazer com o seu imóvel. Na verdade, o que aqueles querem mesmo dizer é que não reconhecem a propriedade privada, pelo menos a dos outros, a começar pelas famílias e o uso que fazem daquilo que é seu. Os mais fortes, mais difíceis de subjugar, os que podem comprar prédios inteiros para não correr o risco de ter vizinhos a estragar-lhes o negócio, ficam intocados.
Pelo andar da carruagem, o melhor é também estes fazerem hotéis nos seus prédios em vez de alojamento local. É que o Bloco de Esquerda, pela voz do seu vereador em Lisboa, já fez saber esta terça-feira que é preciso ir mais longe. Até onde ainda não se sabe, mas o primeiro degrau de intervenção estatal está tomado com a mais recente legislação sobre o alojamento local. De seguida, o interesse público da esquerda poderá não conhecer limites. O impacto na economia portuguesa tem sido de tal ordem, que pode mesmo vir a justificar tomar conta do negócio para assegurar recursos ao Estado. Claro está que quando for o Estado a controlar o alojamento local, por intermédio de mais uma empresa pública criada para o efeito, e por razões de interesse nacional, não se lhe aplicará a lei que há dias fizeram aprovar. O Estado não tem vizinhos.
Este caminho é a derrota do povo que centra a sua vida e da sua família em torno do que é seu, mas que todos os dias assiste ao encolhimento do seu círculo privado, em favor do que é “nosso”, que não quer, mas que lhe é imposto. Esta corrente ideológica que nos imputa cada vez mais “filhos” para cuidar, engorda o Estado, apaga o indivíduo e é um perigo para a democracia.
Paulo Almeida escreve à quinta-feira, semanalmente
One Comment