Opinião: À mesa com Portugal

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Da Serra ao Mar, o nosso coração bateu mais forte, o nosso sorriso nasceu mais aberto. Todos sentimos como um momento especial o anúncio protagonizado pela presidente do júri do International Institut of Gastronomy, Culture, Arts and Tourism (IGAT) de que Coimbra será altamente recomendada para Região Europeia da Gastronomia 2021. Devemos estar felizes. Unidos pela gastronomia, através da gastronomia conseguimos mostrar ao júri do IGAT a força da região de Coimbra, a linha de continuidade que se gera na mesa para além das diferenças de território.

Pela primeira vez entendeu-se a Região de Coimbra como ela é verdadeiramente. Um território onde a identidade se faz de diferenças que não se atropelam, mas antes se complementam. Ao invés de territórios muralhados pelos sabores locais, espécies de baluartes solitários, foram esses sabores parte de um mesmo modelo alimentar que, no passado como agora, não diferia assim tanto do mar para a serra. É verdade que a disponibilidade de produtos alimentares gerada pelo território sempre foi um constrangimento. No entanto, nunca os territórios viveram fechados sobre si próprios numa espécie de endogamia alimentar. As pessoas sempre fizeram a diferença e levaram tradições e produtos daqui para acolá.

Mas isso é que nos enriqueceu! A escolha deve passar sempre pelo que nos aproxima e, neste caso, pode mesmo ser aquilo que é diferente. Quem não gosta de variar na alimentação? É uma chatice comer todos os dias a mesma coisa. Que bom que é comer hoje um arroz malandrinho com peixinhos fritos (ainda que sejam da horta), amanhã uma boa sopa à lavrador ou umas papas laberças de estalo, depois uma chanfana, uma lampantana ou leitão para festejar e em visita aos amigos comermos um maranho com o sabor extraordinário do serpão! Que bom comer, ora uma nevada de Penacova, ora um pastel de Tentúgal, ora um pedaço de Bolo de Ançã quando não queremos que o pecado seja grande!

Demasiado habituados a subvalorizar o que temos nem conseguimos perceber o imenso que temos, o muito que já fizemos e como, em algumas situações, é extraordinária a nossa posição cimeira. No que respeita à gastronomia estamos muito a frente. Digo isto de peito feito porque quem lida com tantos turistas sabe como eles reagem à genuinidade dos nossos produtos. Soubemos preservar o nosso receituário e a ele associar tradições culturais não deixando escapar as “estórias” que são a porta de entrada para o intangível da alimentação.

Estivemos atentos à inovação que, em alguns casos, já deu origem a novos produtos. Trabalhámos na qualificação dos produtos, convém não esquecer que somos um dos países da Europa com mais denominações de origem. Estamos a dar os primeiros passos no turismo gastronómico, mas temos já boas referências. Pomos na gastronomia o nosso bem receber, o nosso sorriso, o nosso abraço. Fazemos da nossa mesa uma extensão da nossa geografia. E todos adoram!

Esta candidatura mostrou que é possível viver a gastronomia da Região de Coimbra para além da questão parcelar. Há um todo que se distingue e que é fundamental para o nosso território. É claro que não nos podemos deixar engolir na torrente da centralidade, mas participar num todo maior é sempre uma opção mais acertada.

E desse investimento comum tirar partido para qualificar ainda mais, estudar as origens, garantir a preservação da genuinidade e do imaterial, criar rotas de sabores, assegurar a alimentação saudável. Quando dermos por ela, o todo deu mais brilho, mais valor, mais destaque às partes.
Mais do que nunca, afirmo, a força de Coimbra está na sua região e o nosso coração, da Serra ao Mar, bate por Coimbra.

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