Em quatro crónicas breves, aflorei alguns assuntos elementares relacionados com a floresta, na visão singela de um engenheiro mecânico que, sem possuir formação académica em questões silvícolas, ao ter administrado o Centro da Biomassa para a Energia (CBE) durante 20 anos, lutou contra a falta de vontade de sucessivos Governos defenderem os legítimos interesses dos pequenos proprietários florestais, face aos enormes lucros de grandes grupos económicos que têm dominado a floresta nacional.
O CBE, centro nacional de transferência de tecnologia, tinha então mais linhas de atuação, mas, pelo valor que a floresta deveria ter para o nosso país, passei a defender esta espantosa fonte de riqueza endógena, que, ao aliar a defesa do ambiente ao crescimento económico, pode conduzir um país pobre a ter um maior desenvolvimento humano.
Para valorizar a floresta, há que conciliar diferentes perspetivas, sendo as florestas espaços de complementaridade de ações práticas em que interagem diversas profissões e tecnologias, e onde se cruzam interesses distintos, dos económicos e sociais aos que preservam o ambiente e a vida, estes últimos ameaçados por alterações climáticas provindas do aquecimento global da Terra, que resulta também da ação da humanidade.
Clima e solos de parte do território pátrio favorecem os crescimentos florestais, mas este “bom” clima e as “más” práticas de gestão de terras dificultam a prevenção do elevado risco de incêndio florestal que existe, pelo que os fogos florestais podem atingir grandes dimensões, sendo factual que a maioria das inúmeras ignições surge pela mão do homem, das criminosas às que decorrem das mais deploráveis negligências.
Estes incêndios florestais resultam também de uma evolução social que tem levado à crescente desertificação humana de regiões de um país pobre, em que agricultura, pastorícia e silvicultura têm sido negligenciadas. O que não tem acontecido em países com desenvolvimentos humanos incomensuravelmente superiores ao nosso, mas que continuam a privilegiar atividades do setor primário, por estas serem vitais para garantir que esses países sejam muito mais autónomos.
As migrações rurais derivam também da falta de oportunidades de desenvolvimento económico e social, pelo que há que inverter políticas de fecho de serviços públicos, e criar empregos para atrair quem prefira morar em regiões pouco povoadas, mas com menos stress e sem os intensos tráfegos que infernizam a vida dos que residem em grandes centros. Mas como, à medida que o êxodo rural for avançando, será cada vez mais difícil inverter fluxos migratórios que vão exaurindo este país, urge alterar políticas de desinvestimento que lesam quem vive no “interior”.
Pelo que as tragédias humanas ocorridas em 2017 deviam ter levado os nossos governantes a repensar o território nacional, mas os políticos parecem rendidos à inevitabilidade de acantonar populações junto às costas, num país com menos de trezentos quilómetros de “interior”, o que é um sinal de gritante incompetência nacional!
Como também o são, no domínio florestal, não se promover o cooperativismo para estimular a gestão conjunta de florestas sem grande dimensão, ou não incentivar o emparcelamento para poder mecanizar operações silvícolas, ou não apoiar a valorização permanente da biomassa florestal residual para gerar energia térmica e elétrica, se importamos grande parte da energia consumida. Ou haver saldos negativos no setor primário, quando temos condições ímpares para criar “superavites” facilmente exportáveis. Ou… ou…
Em suma, se não invertermos a desertificação humana existente em grande parte do território, se não incentivarmos muito mais a valorização de todos os nossos recursos endógenos, das pessoas às matérias-primas, para produzirmos muitos mais e melhores serviços e produtos, e se não melhorarmos imenso a nossa produtividade global, o futuro deste país não será muito brilhante.