Chegam ao fim oito anos frenéticos em que Manuel Castelo Branco iluminou o ISCAC de inquietação e contemporaneidade. “Aqui fica alguma da sua reflexão crítica, em registo de balanço”, numa entrevista ao DIÁRIO AS BEIRAS
O que era o ISCAC, quando assumiu a presidência?
Era uma grande escola de Contabilidade e Administração. Era, talvez, mais convencional, mais em linha com o modus vivendi do ensino superior, em Portugal e no mundo, isto é, muito focado no ensino e na investigação mas pouco aberta à cidade e ao mundo e, sobretudo, aos contributos do universo empresarial e institucional que é o campo aberto para os estudantes desta escola.
Oito anos depois, o que é a Coimbra Business School?
Nós temos uma ideia, que a própria escola foi cultivando, de que esta era apenas uma escola de contabilidade. Aliás, estamos a comemorar 97 anos da criação da Escola de Comércio, da qual o ISCAC foi continuador. E, embora o curso de Gestão apenas tenha sido criado nos anos de 1990, a verdade é que a administração, a gestão, faz parte do nosso ADN, desde o início. Agora, o que aconteceu foi que a escola assumiu a sua natureza de escola de negócios, a primeira de Coimbra e hoje das melhores do país, correspondendo a uma tendência do mundo anglo-saxónico. Hoje, a escola mantém a sua vertente mais tradicional, com as suas licenciaturas e mestrados, cuja oferta aumentámos muito tentando abarcar todas as áreas da gestão, mas percebeu, a meio do caminho, que era fundamental conjugar o rigor científico, que sempre teve, com o saber prático das empresas e das instituições, dos vários atores da comunidade que não eram chamados à escola. Hoje, as nossas pós-graduações, cursos breves, workshops, mini-MBA resultam muitas vezes da iniciativa dos nossos parceiros que, muitas vezes, indicam eles próprios parte do corpo docente.
O ISCAC sempre teve altos índices de empregabilidade…
Sim, também porque as áreas de formação – a contabilidade, a auditoria, a gestão – tinham muita procura. Mas, hoje, o mundo passou a exigir ainda mais conhecimentos nestas áreas, nomeadamente, na fiscalidade. Por isso, mas também pela vocação transdisciplinar da nossa oferta formativa, eu creio que essa empregabilidade foi reforçada.
Um aluno que faça, por exemplo, uma licenciatura Bolonha, em Contabilidade pode fazer, depois, um mestrado em áreas tangentes, como Informática de gestão, Auditoria, Marketing, Gestão… Por outro lado, para um empresário, é muito interessante ter profissionais com esta plasticidade de formação.
Mas esta empregabilidade tinha um custo: muitos dos nossos alunos não ficavam para os mestrados porque tinham emprego imediato. Por isso, tivemos, e temos, muitos mestrandos que voltam à escola depois de anos já empregados. Mas isso é também uma vantagem, pois nessas pós-graduações o patrão é o mesmo. Essa foi, aliás, uma revelação, já que percebemos que o “famoso” mercado está muito mais atento às pós-graduações focadas, tailor made, no fundo, exige-as, mesmo.
Admite que a digitalização pode ser um risco maior para a profissão de contabilista?
Bem, neste momento, a Contabilidade já não é o nosso principal foco. E a verdade é que há muitas coisas para mudar, na sociedade, e não só na Contabilidade. Mas, como gosto muito de História, eu não sou crente nenhum na adivinhação do futuro. Portanto, isto de dizer que vai ser assim é muito discutível. Basta ver que, ainda há pouco se garantia que o livre comércio e a globalização são inevitáveis e já estamos num tempo histórico em que os protecionismos estão à beira de voltar a aparecer. Mas também não estou muito preocupado, até porque sei que o que quer que venha a mudar é no domínio dos instrumentos práticos das profissões mas não nas competências reais que, essas sim, têm de ser ensinadas e aprendidas.
Acima de todas, está a marca Coimbra…
Pois, a marca Coimbra é fundamental. E isso já acontece no Politécnico, com a Coimbra Business School, a Coimbra Health School, agora a Coimbra Engineering Academy e até a Agrária de Coimbra, como já vi num outdoor, e muito bem. Coimbra é de facto o grande fator distintivo e por isso deve ser aproveitado. É uma marca que já não pesa tanto no país, como dantes, mas ainda é fortíssima no mundo da lusofonia e, em particular, no Brasil, que, com os seus mais de 200 milhões de habitantes pode, por si só, assegurar o futuro do ensino superior em Portugal.
Nem tudo foi positivo, no Politécnico…
Aspetos negativos são, talvez, a excessiva centralização e a sobrelevação do nome Politécnico em detrimento das marcas das escolas. Aliás, a própria marca Politécnico não creio que seja forte. Se fosse Universidade Técnica, aí sim… Ou, como acontece no Porto, na sequência de uma estratégia de cidade, que envolveu a Câmara Municipal, a Universidade e o Politécnico, onde foi possível robustecer marcas de referência U.Porto e P.Porto…
Coimbra teria a ganhar com uma estratégia similar?
Claro, embora Coimbra tenha, em si, uma desvantagem à partida que resulta dos caminhos historicamente separados de Universidade, Politécnico e Município, com uma desqualificação social do ensino politécnico particularmente marcada.
Entrevista completa na edição impressa de hoje e amanhã do DIÁRIO AS BEIRAS