Opinião: Elites e Revolução

Posted by
Spread the love

Um dos frutos da Reforma Pombalina foi a criação de uma elite científica e política, que sobreviveu à brutal contrarrevolução, que se seguiu à Morte de D. José I e ao Exílio em Pombal do Marquês. Contudo, em 1820, surgiu com protagonismo e ativismo um plêiade de homens em que: “Faz fé, ainda hoje em Portugal a doutrina de 1820 se deve exclusivamente à expansão e dinamismo das ideias liberais, de que a Maçonaria, a Universidade de Coimbra e a Academia das Ciências teriam sido os principais veículos” 1.

De facto, a leitura, mesmo rápida, das atas das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa de 1821-1822 mostra-nos uma abertura ao progresso e, mais ainda, à mudança do paradigma económico e social que foi gerada por homens educados pelas escolas reformadas ou criadas pelo Marquês de Pombal.

Contudo, esta Revolução Liberal não teve sequência por lhe faltar uma organização social de base que lhe permitisse sustentar uma alteração radical da base económica e tecnológica. Foi o que não aconteceu por entre 1820 e 1851 se terem sucedido guerras civis que só terminaram com a Regeneração. Tivemos nessa altura homens de elite capazes de dar corpo a épocas de progresso como foi o caso de Rodrigues Sampaio, Alexandre Herculano e Fontes Pereira de Melo.

Infelizmente, nos primeiros anos do nosso século XXI, tivemos uma intervenção pouco assisada de uma Troika externa, acompanhada de aplausos de gente politicamente determinante, a quem uma “elite interna” pouco corajosa disse ámen, permitindo a degradação do funcionamento da economia e da educação.

Na verdade no campo da economia, notámos que ninguém de topo na ciência económica se afirmou claramente contra uma política financeira que, insensatamente, fazia definhar a economia, todos parecendo nada entender do que se passava. Também quase ninguém na educação se posicionou contra as teorias abstrusas de Maria de Lourdes Rodrigues, que só queria degradar a profissão docente para diminuir os seus salários e os custos de progressão profissional.

Fê-lo para, consequentemente, cortar os dedos para que os anéis da finança continuassem a brilhar. E estes foram perdidos tal como agora vemos, aqui a propósito de muitos bancos desaparecidos ou que tiveram que ser recapitalizados para não desaparecerem, e o mesmo podíamos dizer da Saúde.

Em tudo faltou-nos uma elite com capacidade crítica para dizer que o “Rei” estava nu quando se revestia com ideias abstrusas, que eram mesmo inaceitáveis.

Tudo nos leva a pedir que as verdadeiras elites se juntem intimamente a um povo ingénuo, que precisa de quem lhes explique que algumas ideias correntes são apenas ilusões criadas pelos arautos do neoliberalismo.

1 Azevedo, Julião Soares de – Condições Económicas da Revolução Portuguesa de 1820, Empresa Contemporânea de Edições, Lisboa, 1944, p. 9.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.