Há uma pretensa rivalidade entre Coimbra e Viseu, que tem servido para manter a centralização como dogma, e para escamotear que as duas cidades não disputam o número de rotundas por metro quadrado, nem a qualidade de vida em ar puro, ou a maior competência em prestação de serviços públicos de saúde, educação e segurança social.
A acessibilidade entre Coimbra e Viseu é central para descentralizar, promover intercâmbio de conhecimento e praxis, rasgar o interior e chegar mais longe e mais desenvolvimento, produzir bens e democratizar o consumo, criar turismo sustentável útil para as capitais, distritos e região.
No País, e há muito tempo atrás (Cavaquistão?), foram construídas estradas sobre estradas, autoestradas paralelas e estradas que eram caminhos, entre os quais o IP3. Por interesses longínquos que traduzem evidência, criou-se uma rede viária privilegiando a rodovia em detrimento da ferrovia.
Em simultâneo, desinvestiu-se e retiraram-se serviços e recursos humanos (unidades de saúde, tribunais, segurança social, correios, bancos, etc.), o que contribuiu para a desertificação do território, sofrimento das pessoas e um País a duas velocidades.
A autoestrada entre Coimbra e Viseu era desejável e deveria ter sido feita quando o reino do cavaquismo tinha posses económicas e fundos estruturais europeus que o facilitavam, desde que houvesse vontade política de o fazer.
Mas não foi feito, e chorar pelo leite derramado não resolve a assimetria entre litoral e interior, os fundos económicos não nascem dos rios, as medidas para desenvolvimento do propalado interior tardam, as catástrofes agravam o desespero das gentes, a cidadania esmorece de tanto lutar e a acção política esgota argumentos e até satura de tanto mal-dizer.
A requalificação do IP3 e a ligação à A13, com um programa sério como foi apresentado, é uma pedrada no charco do imobilismo, é uma urgência que foi assumida como emergência, é a solução de curto / médio prazo mais credível no imediato.
A ausência de custos para o utilizador (vulgo portagens), as vidas que serão salvas pela qualidade do traçado e pelos meios de socorro (desde que as ambulâncias não sejam multadas…), o desenvolvimento empresarial em segurança e proximidade, os serviços públicos que estão a ser repostos paulatinamente, o consumo proporcional às populações independentemente da residência, justificam esta solução como adequada.
Coimbra e Viseu não são inimigas nem concorrentes para se olharem ao espelho meu, quem é mais belo do que eu, para se degladiarem na atribuição de proventos externos que as valorizem unitariamente, ou para impor o seu voto individualista valendo mais do que o outro.
Coimbra e Viseu beneficiam com a melhoria da acessibilidade através da requalificação do IP3 e, por consequência, a melhoria da vida das pessoas no seu todo, contribuindo para, a longo prazo, outras soluções serem adoptadas (como a autoestrada), em contexto de mais-valia, fruto do desenvolvimento adquirido e do equilíbrio das políticas públicas.