Há muito que não se ouvia falar da RTP. A televisão é, para alguns, um projecto de poder. Para outros, um serviço público cujo interesse será melhor prosseguido com menos governamentalização. O Estado não se confunde com o Governo e a sua função deverá ser a de garantir um modelo de serviço público melhor e mais credível. O Bloco de Esquerda, pela voz da sua líder, vem agora defender que o presidente do Conselho de Administração da RTP deve ser nomeado e fiscalizado pelo Parlamento e não pelo Conselho Geral Independente. Sem que pareça ou ecoe a contradição insanável, Catarina Martins diz que a independência do poder político estará dessa forma mais garantida.
O anterior Governo, neste caso com Poiares Maduro a liderar, construiu e propôs um projecto de uma RTP mais eficiente e mais moderna assente em novos Estatutos, que vieram admitir um novo modelo de governo da empresa, reforçando os mecanismos que garantem o propósito de independência, pluralismo e responsabilização da comunicação social do Estado. Como? Através do Conselho Geral Independente. Este é um modelo assente num órgão independente de supervisão interna. Este modelo, agora existente em Portugal, pode vir a ser substituído pela geringonça por um modelo assente na supervisão ou tutela do Governo proposto pelo Bloco de Esquerda, de má memória em muitos momentos da nossa história.
Há muito que não se ouvia falar da RTP. O que, em princípio é bom sinal pois normalmente isso significava que o Governo ou algum governante se intrometia em demasia nos seus assuntos. Os bloquistas querem agora que haja um amplo debate sobre o serviço Público de Rádio e Televisão. Deve ser para substituir o anterior amplo debate que houve sobre o mesmo tema. Uma coisa, no entanto, é certa: o novo modelo implementado de um serviço público politicamente independente contribuirá para a qualidade desse debate, que será mais produtivo e mais credível.
É a garantia prestada pelo Conselho Geral Independente, com a forma de selecção dos seus membros, sua inamovibilidade, regras de funcionamento e poderes atribuídos. Para o Bloco de Esquerda, um presidente do Conselho de Administração da RTP nomeado e fiscalizado pelo Parlamento só não garante o contrário enquanto for a geringonça a decidir.