Cumpriu-se mais um aniversário do assassinato do General Humberto Delgado (HD), às mãos da PIDE, algures por Olivença. HD, general da Força Aérea, é figura que entrou na hagiografia da nossa democracia em função do desempenho que teve nas eleições presidenciais de 1958. Uma tentativa, fracassada, de mudar o regime por via electiva. Batendo-se contra Américo Tomás, o candidato do regime, HD terá sido, não obstante os banhos de multidão, vítima de uma fraude cuja dimensão não creio que estejam bem apuradas.
Na verdade, nessas eleições, HD concitou o apoio de todos sectores que, de alguma forma, se opunham ao Estado Novo, mesmo se o Partido Comunista nunca tenha morrido de amores pela figura. E, apesar do seu desfecho turvo (ou se calhar por causa dele), essas presidenciais de 58 prenunciaram as dificuldades que o regime de Salazar começaria a ter. Pouco depois começam a eclodir as guerras em África.
Duas notas conclusivas: a primeira, para assinalar que HD começa por ser aquilo a que se costuma chamar um “homem do regime”. Aliás, o percurso de HD antes da sua colocação nos Estados Unidos (1952) é tudo menos auspicioso. Primeiro, fazendo parte dos militares que levaram a cabo o golpe do 28 de Maio e depois, mais grave, demonstrando, aqui e além, simpatias pelo regime nazi. Os ares do outro lado do Atlântico fizeram efeito… A segunda, evidentemente, para assinalar a perfídia do regime de Salazar que não hesitava em aniquilar fisicamente os seus adversários mais temíveis.