Opinião – Os nossos heróis

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Aires Antunes Diniz

No ano passado desapareceram figuras do espetáculo musical como Zé Pedro, que geraram ironicamente inveja na hora da morte. Surgiram outras como Salvador, trazendo com ele a Esperança da nossa integração plena na Cultural Universal. Antes outros se notabilizaram e “Não foi só Coimbra, Lisboa e o Porto que se entusiasmaram com o Hilário. Foi o país inteiro”. ( 1 ) Contudo tendo morrido em 3 de Abril de 1896 apenas deixou na nossa memória coletiva os fugazes momentos em que cantava.

Infelizmente, no ano que findou, o país inteiro pouco fruiu das glórias musicais e das futebolísticas. Teve só o espetáculo da incúria e da deceção das vãs glórias dos políticos que ganham eleições e que, de logro em logro, fazem arder Portugal inteiro e desbaratar os dinheiros privados, que havia nos bancos falidos, e eram poupanças de vidas.

Queixam-se agora da falta de poupança dos portugueses, mas nada dizem acerca das míseras taxas de juro oferecidas. Também só falam de proprietários que não limpam os seus terrenos, culpando-os. Não pensam sequer que foram obrigados a emigrar por não terem emprego, nem oportunidades de negócio onde ganhar o pão de cada dia.

Sem mais heróis elegeram os bombeiros como salvadores da floresta, que é que vai nascer. Esquecem-se de ver como podem viver sem Anjos da Guarda. Só querem viver sem cuidar das suas vidas, acreditando em todas as patranhas ou, pior ainda, não cuidando da dignidade própria e/ou alheia. Aceitam por isso todos os políticos que se aproveitam dos cargos ganhos em eleições manipuladas. E tudo isso vemos como indignidade coletiva nos jornais que anunciam as suas entradas próximas na prisão.

Choca-nos ainda que alguns respondam arrogantemente aos jornalistas que os entrevistam ou então terminam abruptamente a conversa.

Muitos portugueses já nem se preocupam em saber das respostas pois nada lhes acontece como justiça. E os tribunais deixam isso acontecer sistematicamente.

Sabem que tudo é narrativa falsa de gente que sempre viveu da mentira, que os fez grandes e donos da coisa alheia. Muitos só disseram que eram precisos sempre baixos salários pois só assim ganhariam dinheiro. E ganharam mesmo muito dinheiro, afirmaram os jornais. Infelizmente, como sinal de um tempo de mentira foram considerados heróis por gente desqualificada, que até os igualou aos que trabalham produzindo com afinco e rigor.

Posto isto como algo bem real, só queremos a sua transformação em algo concreto como verdade e inteligência, que nos leve todos a sermos heróis verdadeiros em cada dia do ano, afastando de nós ficções perigosas que são deceções que provocam mortes e destroem riqueza.

( 1 ) João Paulo Freire (Mário) – Pensamentos, Palavras & Factos (Factos & Comentários:

Abril, Maio e Junho de 1942 ), Coimbra Editora, Coimbra, 1945, p. 104.

 

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