Opinião: O Futuro da Baixa. Uma questão de mentalidade!

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Rui Lopes Rodrigues

Na última semana do ano de 2017, tive a oportunidade de fazer de turista na minha própria cidade. Escolhi um dos principais destinos que a caracteriza: A Baixa. A opção foi escolher algumas prendas na Baixa de Coimbra. Seria interessante comprar algumas recordações mais tradicionais.

A ida à Baixa pareceu óbvia. Nada mais errado! A primeira dificuldade foi conseguir encontrar alguma casa comercial tradicional aberta depois das 19h00. Sim, sou um indivíduo que trabalha o dia inteiro e ir depois das 19h00 fazer compras para o Natal e para o Ano Novo é aceitável.

Mas às 19h05, já estava praticamente tudo fechado. As ruas estavam escuras e via-se pouca gente. Procurei saber as razões junto de algumas pessoas ligadas ao comércio tradicional e as respostas foram no sentido de que “o comerciante também tem direito a descansar” e “depois das 19h00 também já ninguém vem à Baixa de Coimbra”.

Pelo meio ainda ouvi o já tradicional queixume de que as “pessoas preferem ir aos centros comerciais porque tem estacionamento” e “se a câmara instalasse nos edifícios sua propriedade, alguns serviços públicos, as pessoas viriam à Baixa e assim comprariam no comércio tradicional”. Como já eram 19h25, fui ao Centro Comercial fazer as minhas compras…

Em outro dia daquela última semana de 2017, nova tentativa e decidimos “ajudar o comércio tradicional indo jantar a um típico restaurante da baixa de Coimbra”. Procurámos um daqueles espaços característicos da restauração portuguesa que todas as cidades têm e que Coimbra, pela sua história, terá certamente também! Escolhemos um restaurante.

Começou o calvário: Rapidamente fomos confundidos com forasteiros, fomos mal servidos, convivemos de muito perto com uma higiene péssima, uma apresentação de meter dó e, o pior de todos os males: convivemos com as sucessivas tentativas de enganar os clientes (algo que não aconteceu só com a minha mesa, mas que estava a acontecer um pouco por todas as mesas). Após as reclamações, a culpa parecia ser sempre do cliente, pois nós é que não sabemos apreciar o excelente serviço com que nos presenteiam…

Sei que há exceções e por isso não quero generalizar, no entanto, após estas duas experiências, vou pensar duas vezes antes de ir à Baixa gastar o meu dinheiro! Esta foi só a minha primeira conclusão. A minha segunda conclusão foi que “assim, a Baixa está mesmo condenada”.

Esmiuçando um pouco estas experiências, tiro algumas conclusões mais gerais: 1 ) O comerciante também tem direito a descansar mas é o mercado quem dita as regras comerciais, se o comerciante acha que o cliente não deve comprar depois das 19h00 então é melhor fechar a própria porta. A culpa não é do cliente, cabe ao comerciante adaptar-se.

2 ) Depois das 19h00 já ninguém vai à Baixa de Coimbra, é verdade, mas ir à Baixa fazer o quê se está tudo fechado? As ruas estão escuras e as pessoas tem medo da marginalidade que lá caiu. É natural que pouca gente arrisque, mas a culpa não é do cliente.

3 ) As pessoas preferem ir aos centros comerciais porque tem estacionamento, sim é verdade mas os consumidores não vao à baixa para estacionar, vão à baixa para comprar o que precisam e só lá vão se lá houver o que precisam. A falta ordenamento urbanístico da Baixa, os silos de estacionamento não serem só precisos junto aos hospitais e os SMTUC serem dos piores transportes públicos onde já andei, também tem a sua quota de responsabilidade, mas não é total.

4 ) Se a câmara instalasse nos edifícios sua propriedade, alguns serviços públicos, as pessoas iriam à Baixa e assim comprariam no comercio tradicional. Não. Que utopia. Se a câmara fizesse isso, aconteceria o que acontece com a loja do cidadão, as pessoas vão lá fazer o que têm de fazer e vão-se embora.

As principais cidades do país não pararam no tempo e é frequente ver pessoas andarem nas baixas a fazer compras depois das 19h00, sobretudo em épocas comerciais altas. É frequente ver essas baixas bem iluminadas e com policiamento. Cada vez mais, as principais cidades compreendem a importância do ordenamento urbanístico das baixas, cada vez mais, as principais cidades dotam-se de bons sistemas de mobilidade que liguem os centros do comércio aos centros de habitação. Mas sobretudo, cada vez mais, os comerciantes daquelas cidades, souberam compreender os novos tempos e reinventarem o seu negocio.

Há que dizê-lo: A principal dificuldade da Baixa de Coimbra é a mentalidade com que os seus comerciantes encaram o comércio.

Se em Lisboa e Porto as pessoas não se importam de pagar estacionamento e pagar metro enchendo as ruas das respetivas baixas até horas bem tardias, se naquelas cidades, as grandes marcas nacionais e internacionais mantem e ate reforçam a sua presença, se naquelas cidades existem centros comerciais e mesmo assim as pessoas também vão à Baixa, é porque a Baixa tem o que as pessoas gostam.

E isto só tem uma explicação: Os comerciantes daquelas cidades, perceberam que o paradigma comercial mudou e que ou mudavam com eles ou acabavam. É o que está a acontecer na Baixa de Coimbra. O problema não é a falta de estacionamento, a falta de transportes, os dois grandes centros comerciais, ou a inércia do Município. O problema é a resistência aos novos tempos ser tão grande, que está a levar ao encerramento de casas comerciais históricas e ao abandono das grandes marcas.

Há que mudar a mentalidade. O paradigma atual tem um consumidor mais exigente, que quer conforto, qualidade, requinte, rapidez, educação, modernidade. O consumidor quando compra um produto, compra tudo isto e se não há na Baixa, o consumidor não vai lá.

Para o futuro da minha cidade, que tanto amo, desejo que todos se juntem e renovem mentalidades, aceitem o novo e o vivam. Bom Ano 2018!

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