Opinião: Já nem os bispos lhes escapam…

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Francisco Queirós

Em 2018 é fundamental que haja mais emprego digno, salários justos e oportunidade de realização profissional. Para tanto, impunha-se a subida do Salário Mínimo Nacional para 600 euros em Janeiro, ao invés dos 580 aprovados pelo governo.

Assegurar um ano de 2018, melhor pressupõe que se elevem as condições de vida dos trabalhadores portugueses, promovendo o desenvolvimento do país com progresso e justiça social. Não é possível desperdiçar nenhuma oportunidade de intervenção para levar mais longe a defesa, reposição e conquista de direitos mas, para além disso, e em articulação com essas conquistas e avanços, importa lutar e intervir para pôr de pé uma outra política que valorize o trabalho e os trabalhadores.

É pois mais que tempo de promover um aumento geral dos salários, em particular do Salário Mínimo Nacional, combater a precariedade, alterar as normas gravosas do Código do Trabalho e aumentar em geral as reformas e pensões.

Sobre este tema, em entrevista à rádio pronunciou-se recentemente o bispo emérito das Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira. Eis porém que nem o bispo escapa às garras reaccionárias de alguns senhores da comunicação social. Diversos jornais, comentadores e “opinadores” desataram a desancar no bispo.

Segundo algumas interpretações, o bispo teria defendido que “há situações mais urgentes para resolver que o aumento do salário mínimo”. D. Januário afirmou: “Lançam as mãos à cabeça com a subida do salário mínimo. Porque é que não se preocupam com gente que na prática não tem o suficiente para viver? Eu não tenho visto essa preocupação”. Ora, oiça-se a entrevista! O que o bispo afirma é exactamente o contrário do que lhe é imputado. Será que não falamos a mesma língua? Ou este bispo, que não consta que seja revolucionário ou marxista, tem de ser publicamente eliminado? O que o eclesiástico afirmou é que há quem não queira aumentar salários e por isso lançam as mãos à cabeça indignados pelo aumento e por não estarem preocupados pelos mais pobres.

Claramente o oposto do que foi deturpado! Acrescentou D. Januário: “A preocupação pelos outros… sem riqueza…sem riqueza, nós temos que distribuir e eu não vejo essa distribuição, eu não vejo essa partilha. E acho que era aqui que devíamos pôr o acento tónico para o tal desenvolvimento integral. Os pobres menos pobres e os ricos… mais ricos, com certeza, podem ser mais ricos, mas que partilhem”, explicou. E se não querem partilhar então concluiu o bispo: “se os ricos não partilham, o Estado tem obrigação moral de lhes cortar a colecta”.

A interpretação da entrevista ao bispo português avançada por uma parte da comunicação social, retirando uma frase do seu contexto, é tudo menos inocente. No fundo, os empregaditos dos grandes empresários acabam de reafirmar, sacrificando um bispo, a sua palavra e honorabilidade, que a Igreja se remeta à sacristia.

Ora, católicos ou ateus, como eu, não podem ficar indiferentes, a esta enorme sujeira!

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