Opinião: Falar do que é (muito) sério

Posted by
Spread the love

Os meus filhos aprendem matemática, hoje, da mesma forma que me foi ensinada há quase 40 anos. Cantarolando a tabuada no mesmo ritmo, usando os mesmos métodos e exemplos. Mas o mundo não é o mesmo. Mudou radicalmente!

Há quarenta anos não havia internet, nem telemóveis, nem “tablets”. Os robots eram coisa de ficção científica e o “machine to machine” não passava de um sonho perdido nas gavetas das melhores universidades americanas.

Mas tal como eu há quarenta anos quando me sento com os meus filhos, hoje, a pergunta deles é a mesma: “para que serve a matemática?” e “por que motivo precisamos de aprender isto?” Ontem como hoje, a escola não tem resposta nem motivação para este tipo de perguntas. A dimensão prática e aplicada da matemática, assim como das demais ciências exatas, deve ser desenvolvida pela escola, desde o básico, e projetada nos currículos.

A economia do conhecimento e a digitalização das nossas vidas mudou radicalmente o perfil das necessidades de formação e competências. A escola portuguesa continua a formar para uma sociedade analógica. Anda tudo muito preocupado com os robots que vão substituir os homens, mas não pensam quantos serão precisos para criar e programar os robots. São novas oportunidades que surgem. É o ver o filme ao contrário. Não como habitualmente de trás para a frente!

Governante que quiser ficar na história não é pelo número de multinacionais que consegue atrair ou de conferências sobre tecnologia, mas pela visão – e já não pela coragem – para mudar a escola pública portuguesa: programação (coding) é o novo “aeiou”; a matemática aplicada e não decorada, os trabalhos em grupo e colaborativos; a história não “marrada”, mas sob forma de indagação e pesquisa são alguns dos caminhos para em vinte anos – imagine-se!!! – podermos sobreviver e competir.

E daqui resultam outros desafios. As desigualdades obviamente tendem a agravar-se, porquanto quem tem capacidade financeira coloca já hoje os filhos nas escolas onde haja novos currículos e uma visão moderna do ensino. Ou o estado muda radicalmente a visão que tem da escola e moderniza ou está a alimentar um fosso de desigualdades e a criar um futuro exército de desempregados. Será tão difícil assim compreender isto?…

E não se trata sequer de criar nada novo, mas antes replicar em Portugal os exemplos mais bem sucedidos da Finlândia e da Coreia do Sul.

Quem está então disponível para falar de coisas (muito) sérias?!..

One Comment

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.