O futebol é hoje uma indústria que movimenta quantidades industriais de dinheiro pelo que não é possível nem é honesto misturar ou comparar sequer a liga profissional de futebol com qualquer outra modalidade nacional. O termo de comparação pode ser a NBA ou as ligas americanas do Super Bowl ou do Basebol mas não, como é óbvio, o campeonato nacional de basquetebol ou de râguebi.
Ora, em todas as ligas profissionais de futebol dos países da UE, tal como nas ligas profissionais norte-americanas, não é permitido sequer aos clubes disporem dos direitos televisivos, quanto mais transmitirem em exclusivo os seus próprios jogos. E mesmo para quem considere, como é o meu caso, que somos um país com mentalidade de terceiro mundo, a verdade é que não existe um único país, mesmo no terceiro mundo, onde seja permitido a um clube da liga profissional de futebol transmitir os seus jogos em exclusivo. E é muito fácil perceber porquê.
Quando há muito dinheiro em jogo, é necessário reforçar a independência de todas as estruturas que suportam a competição para evitar precisamente o que sucede em Portugal: que haja o condicionamento da competição e dos seus intervenientes por parte de algum clube ou clubes participantes. E o poder da imagem é hoje um dos poderes mais poderosos do mundo, passe o pleonasmo, e mais inibidor pelo que não pode estar na mão de um dos clubes participantes. É precisamente também por esta razão que não é permitido que uma televisão partidária transmita em exclusivo a actividade do governo.
Além disso, basta fazer um pequeno exercício para perceber o absurdo desta situação. Temos, no entanto, de ficcionar que a nossa liga é um verdadeiro campeonato de futebol disputado por dezoito clubes e não um jogo da batota disputado por três seitas, cada uma das quais com as suas catedrais, capelinhas, papas, padres, missas e fiéis devotos. Se fosse uma verdadeira liga de 18 clubes, significava que todos os clubes tinham iguais direitos e, como tal, todos eles poderiam vender os seus direitos televisivos e transmiti-los na sua televisão. Tal significava que os portugueses para verem os jogos da I Liga teriam de pagar 18 taxas de televisão aos 18 clubes que a disputam. E se em Espanha e Inglaterra seguissem o exemplo, cada português teria de pagar 54 taxas televisivas para também poder ver os jogos da Liga inglesa e espanhola.
Para já não falar na imoralidade da violência imposta a todos os adeptos que não são do Benfica de serem obrigados a ter de financiar o Benfica se quiserem ver o jogo do seu clube com o Benfica e, como se isso já não fosse humilhação bastante, a ter de suportar durante todo o decurso do jogo a sua propaganda institucional e o facciosismo dos seus comentadores.
O que se passa em Portugal é uma vergonha e é bem demonstrativo de como o nosso povo convive bem com a corrupção, o compadrio e a aldrabice.
Não é por isso de admirar que, enquanto nos outros países, os políticos suspeitos de corrupção se afastem dos cargos imediatamente, aqui sejam reeleitos mesmo depois de acusados e condenados.
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