Opinião: O Serviço Nacional de Saúde vai nu!

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A conhecida história de Hans Christian Andersen “O Rei Vai Nu” poderia ser uma metáfora do Serviço Nacional de Saúde. Na história, o Rei vaidoso queria para si a melhor roupa, até que um dia, uns impostores convenceram-no que utilizavam os melhores tecidos do mundo e que estes tinham propriedades mágicas: ficavam invisíveis perante aqueles que não tinham qualificações para o cargo que ocupavam. Quando lhe foi apresentada a roupa, ele não a viu, e, por vergonha, decidiu não dizer nada. Quando saiu à rua, uma criança atestou o óbvio, apontou e gritou: “o rei vai nu!”

Existem similaridades entre o nosso Serviço Nacional de Saúde e este Rei. Ambos estão nus, todos conseguimos ver, mas parece que o Ministério da Saúde não vê ou não quer ver, tal como na história o fazem os amigos do Rei. Pelo contrário, todos os dias tenta esconder a verdade nua e crua: o Serviço Nacional de Saúde vai nu!

Escreve M. Scott Peck, no seu livro “O caminho menos percorrido”, que a “a vida é difícil. (…) uma vez que vejamos realmente esta verdade, transcendemo-la”.

O estado de nudez do nosso Serviço Nacional de Saúde é gritante: Existe um esvaziamento dramático de recursos humanos, por todo o lado faltam enfermeiros, secretários clínicos, assistentes operacionais e médicos; Os profissionais privam-se de gozar os descansos compensatórios para garantirem que não há falhas no atendimento aos utentes; A criação de Unidades de Saúde Familiares ‘modelo A’ e a sua passagem a ‘modelo B’ estão congeladas; A reforma Hospitalar está num impasse; Os cortes orçamentais no material (medicamentos e outros) diminuem a qualidade dos atos prestados; A precariedade das instalações põe em risco profissionais e pacientes; A resposta tonta perante a ameaça da gripe, com abertura desregulada dos centros de saúde, em horários desadequados e sem o equipamento necessário; A falta de capacidade dos Agrupamentos de Centros de Saúde e Adminstração Regional de Saúde na resposta a problemas estruturais como, por exemplo, o seguro das viaturas, obrigando à sua imobilização nos parques de estacionamento dos centros de saúde.

É aqui que, sem pretensões, a Ordem dos Médicos decide chamar à atenção e pede a todos os médicos que cumpram o seu dever denunciando estas situações e preenchendo a Declaração de Isenção de Responsabilidade.

Esperamos que este seja o momento em que, tal como na história, os amigos do rei se apercebem de que este vai nu. Só assim poderemos trabalhar para encontrar as soluções que possam enaltecer o nosso nobre Serviço Nacional de Saúde.

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