Opinião: Um registo pontual

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Gil Patrão

Uma das poucas vantagens de “ver o tempo passar”, é ter tempo para vaguear ao longo de uma terra sem que, para tal, tenha de haver uma qualquer razão ponderosa. Ao calcorrearmos ruas e avenidas sem pressas, observamos pormenores do que há muito tempo por lá existe, mas que, quando andamos mais atarefados, quase passam despercebidos e raramente merecem a atenção devida. Como perto do Parque Linear, numa rua em que há uma creche e uma escola básica.

Comecemos pela rua, que foi rasgada há muito tempo com bom traçado, é ladeada por prédios com qualidade e por um pequeno jardim público, mas que ainda tem zonas desprezadas. A placa toponímica indica que D. Ernesto Sena de Oliveira foi Arcebispo-Bispo de Coimbra entre 1948 e 1967, referência mínima para quem, antes de renunciar, e entre muitas outras ações relevantes, erigiu, na Rua do Brasil, o atual Paço Episcopal, e foi fundador do Colégio de São Teotónio.

Mesmo antes de entrar em tal rua pelo lado norte, podemos ver que no arruamento adjacente, finalmente melhorado, há motas e motorizadas destroçadas, amontoadas num espaço descuidado das instalações de uma instituição pública que zela pela segurança da cidade. E ao contornar um edifício que não tem traça arquitetónica de relevo, antes desfeia tais ruas, vemos que, entre o Centro de Bem Estar Infantil dos Casais de Santa Maria e a Escola E B 2.3 Dr.ª Mª Alice Gouveia, num terreno muito amplo, vedado com muro baixo, encimado com rede de arame, há um “armazém” de veículos automóveis apreendidos, que aí ficam depositados por muito tempo.

Convenhamos que o local referido não é, de todo, o mais indicado para guardar carros e furgões, que apodrecem até serem arrematados em leilões! É que enquanto as viaturas aí permanecem, os numerosos pequenos roedores que delas se vão apoderando ameaçam a saúde de bebés, crianças e jovens que frequentam quer o Centro Infantil quer a Escola Básica, e dos residentes em tal rua.

A Câmara Municipal de Coimbra não possuirá um terreno, afastado de escolas e habitações, adequado ao depósito temporário de decrépitas ruínas de carros, motas e motorizadas, que possa ceder à digna corporação que tem por obrigação legal recolher tais sucatas? É que haverá uma melhoria da saúde pública quando um tão mal localizado “cemitério automóvel” acabar. E se selecionarem um local que careça de uma esquadra de proximidade, e se a atrás referida para lá for mudada, haverá uma sensível mais-valia urbana, a par de uma notória melhoria ambiental.

Outra vantagem do passar da idade é poder discorrer, devagar, sobre assuntos tão banais como o agora exposto, que talvez nem mereça ser objeto desta intervenção cívica. Mas, numa sociedade cada vez mais egocêntrica, nunca serão palavras vãs as que à toa são trocadas entre amigos, e até com desconhecidos… E não será que quando alguém nota – nesta ou noutra terra qualquer – algo que merece reparos, não deve fazer chegar o que observar, a quem ali incumbir governar?

O bem-estar de qualquer povo depende de inúmeros fatores, mas nem todos são transcendentes. Há questões triviais que quando não são resolvidas em devido tempo afetam a qualidade de vida das pessoas, pelo que expor publicamente o que se entende que não está bem, permite analisar, melhorar e preservar o que há, se a voz do povo se fizer ouvir…, e se for escutada devidamente!

Quando a comunicação social divulga o que afeta os cidadãos amplifica a fraca voz do povo e influencia quem é eleito pelo voto popular – e os que são responsáveis pelos serviços públicos – a encontrar soluções adequadas para questões que condicionam a qualidade de vida coletiva. Ou será que quem tem por missão melhorar Coimbra, nem ouve nem lê o que o povo vê e critica?

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