Opinião: Uns com tanto, outros com tão pouco

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Francisco Queirós

Um estudo recente confirma o adágio. Uns com tanto (poucos), outros (muitos) com tão pouco, quase nada ou mesmo nada. Não, não é um estudo de sindicatos, de comunistas ou afins. O banco UBS com a colaboração da consultora PwC publicou uma avaliação da riqueza mundial.

Assim, considerando os 1542 mais ricos, detentores de património superior a mil milhões de dólares, estimou a sua fortuna em 6 biliões de dólares ( 5,2 biliões de euros). Nem fazemos bem ideia de que valor é este. Fica porém mais evidente se constatarmos que é equivalente a mais do dobro do Produto Interno Bruto do Reino Unido. E percebemos bem melhor ainda se afirmarmos que equivale a 32 vezes toda a riqueza produzida em Portugal no ano passado.

Em 2016, a riqueza deste clube dos mais ricos dos ricos aumentou 17%! O estudo revela ainda que a concentração de riqueza no mundo não só está a aumentar a cada ano que passa, como é agora do mesmo nível do início do século XX, ou seja, a concentração da fortuna no mundo é a maior desde há cem anos!

Interessante ou talvez dramático foi o comentário que a este propósito foi proferido pelo banqueiro responsável pelo estudo e divulgado pelo jornal britânico “The Guardian”. Josef Stadler afirmou que os multimilionários “sentem um medo crescente que o aprofundar das desigualdades resulte numa intervenção da sociedade e num contra-ataque”. Pois é! As desigualdades acentuam-se e milhões e milhões de seres humanos vivem na mais profunda pobreza. Deste modo, podem os muito ricos temer pelo “contra-ataque”.

Mais do que isso. Deve a humanidade obrigatoriamente intervir, promover um forte contra-ataque! E o banqueiro tirou ainda outras conclusões. Explica que “os 1500 mais ricos do planeta estão a investir na compra de obras de arte e na construção de galerias públicas, assim como a investir em equipas e equipamentos desportivos”. E Stadler esclarece que o objectivo dos milionários é “combater a percepção de que estão a enriquecer à custa das amplas camadas da população.” Além de obterem amplos benefícios fiscais, diga-se. Desde 1999, há 18 anos, os mais ricos do mundo multiplicaram a sua riqueza mais de seis vezes.

E em Portugal? Será diferente? A revista “Exame” em Julho publicou a lista dos 25 mais ricos do país. E também por cá as fortunas não param de aumentar. A riqueza dos 25 voltou a crescer em 2016, pelo quarto ano consecutivo.
Anda assim o mundo que é dos ricos. Anda assim o nosso país, onde se luta por um salário mínimo de 600 euros, onde tantos e tantos vivem com pensões de miséria e onde quase todos contam os tostões e sofrem com os dias a mais que os meses teimam em ter.

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