Opinião: Medicina centrada na pessoa – Complicado? Não.

Posted by
Spread the love

Luís Miguel Santiago

A Consulta é a atividade principal do médico de Medicina Geral e Familiar (MGF) tendo elevada complexidade para a sua correta realização.

A consulta deve desenvolver-se numa abordagem centrada na Pessoa que consulta, sustentando-se numa relação de mutualidade em que há participação, partilha e responsabilização de ambos os intervenientes.

O modelo da Medicina Centrada na Pessoa centra-se na singularidade de cada pessoa e ao mesmo tempo presta atenção aos aspetos biomédicos, ao médico, à relação médico-paciente e aos factores da Pessoa como os seus intrínsecos, os seus “familiares”, os seus “sociais” , as suas “expectativas, receios e aspirações” para lá das motivações que possa ter para consultar um médico acerca de um problema que a aflige, ou de um problema de que alguém lhe disse que pode sofrer ou de que sofre mesmo.

É cada vez maior a penetração de informação sobre problemas de saúde, cada vez mais apelando a técnicas de “venda do medo de doença” fazendo as pessoas pensarem que podem ter uma doença.

O termo doença implica a existência em permanência de um conjunto de “sinais” (como entidades demonstráveis pelo exame físico ou de alterações analíticas evidenciáveis em exames específicos) e sintomas ( o que a pessoa sente).

Mas há também o termo dolência ou enfermidade para nos referirmos ao que as pessoas que consultam vivenciam como sintomas, medos, expectativas, receios e angústias, que podem surgir como reflexo da informação. Ou até apenas por causa de alterações que notam no seu organismo.

Na relação ‘médico-pessoa’ as questões como o tempo de espera para a consulta, quer em tempo até ela ser marcada e o de espera num local para ser atendido, o ambiente da consulta, da disposição do gabinete à localização no espaço entre médico e pessoa, o arranjo do gabinete, o processo de condução da conversa, a abertura a que a pessoa expresse as suas dúvidas ansiedades, ansiedade e preocupações, um exame bem realizado e não apenas as análises pedidas, uma clara e perceptível explicação sobre o que pode estará acontecer, a capacitação, e a partilha do plano do que fazer para que a pessoa seja parte da solução e não apenas do problema, o empoderamento, são essenciais.

Neste tipo de consulta a capacitação implica que a pessoa obtenha a informação necessária para melhor poder lidar com o seu problema e mesmo com a sua vida. E o empoderamento significa a responsabilização da Pessoa pelo que em conjunto seja definido entre ela e o médico após ponderação da várias alternativas que se podem colocar nesse caso ou ocasião.

E implica, também, que a Pessoa perceba que a informação a obter é tão válida ou mais do que a que vem da internet e que incorpore a noção de quem a saúde é, também, de sua responsabilidade e que o que hoje é normal pode não o ser amanhã e vice-versa se esperarmos um pouco algumas anomalias poderão ser “revertidas” amanhã.

Complicado? Não!

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.