Gil Patrão
Anne, filha primogénita da jovem Hu, que é filha e neta única, descende de uma família materna que há muito tempo contribui assim para a sustentabilidade do planeta. Henry só tem um irmão, tal como seus pais, pelo que a sua família paterna teve quase igual preocupação. Em 2050, Anne atingirá talvez um terço da sua longa vida, e poderá celebrar o século XXII tendo ao colo Maria, a primeira descendente da sua quarta geração, o que permitirá à humanidade continuar a sonhar. Mas não há garantias de que a Terra, tal como existe, continue a subsistir num futuro longínquo.
Somos hoje mais de sete mil milhões de pessoas, a consumir o que a Terra já não nos dá para vivermos de modo sustentável. E mesmo que no futuro haja muito menos “desperdícios”, e que no mundo continue a haver a pobreza tão desumana de agora, onde quase mil milhões de pessoas passam fome, e que a humanidade adote a dieta mediterrânica como forma de viver, ou venha a seguir uma dieta alimentar tão frugal como a dieta chinesa, ou a ainda menos calórica dieta indiana, há limites físicos que desaconselham acréscimos populacionais contínuos. Mas há países, como Portugal, que, se não crescerem demograficamente, não terão um grande futuro…
Para a Terra continuar a gerar bens e alimentos para todos, a população mundial terá de vir a ser muito melhor planeada pois, à taxa de crescimento atual, em 2050 haverá quase dez mil milhões de habitantes, e em 2100 serão cerca de onze mil milhões, pelo que, se a taxa de crescimento média não diminuir, algumas das necessidades básicas da humanidade não ficarão garantidas.
Para viver com níveis adequados de saúde, em média, um adulto com atividade moderada consome 2.500 quilocalorias por dia, pelo que, se seguir a dieta mediterrânica, gastará cerca de 400 quilogramas de cereais por ano, metade do que utilizará se aderir à dieta norte-americana, mas o dobro do que usará com a dieta indiana. Como o último Relatório Planeta Vivo do WWF indica que em 2010 a Pegada Ecológica global foi de 2,6 hectares globais (gha) “per capita”, sendo de 1,7 gha a biocapacidade total da Terra, se nenhum pressuposto mudar, só com gastos ínfimos a Terra terá capacidade de continuar a gerar os bens necessários para que as pessoas que Anne poderá ter por companhia, quase no final da sua vida, possam vir a ter um melhor futuro.
Hoje, seria preciso haver 1,5 planetas Terra, para se viver de modo sustentável. Claro que Anne não verá a humanidade acabar, mas como a esperança de vida não cessará de crescer, acerca-se a era em que as famílias mais conscienciosas terão um planeamento familiar similar, não à da sua família paterna, que já é inferior à que permite a reposição de gerações, mas à que há três gerações segue a sua família materna, por ser óbvio que a Terra não poderá continuar a dar alimentos e outras matérias-primas suficientes para a humanidade se perpetuar, indefinidamente.
Em 1972 – a população mundial era então cerca de metade da que há hoje -, com “Os Limites do Crescimento”, o Clube de Roma alertou gerações, entre as quais as dos avós e pais de Anne, para ser necessário consumir e poluir menos, e reutilizar, recuperar e reciclar mais, para entregar a Terra, de modo sustentável, às gerações futuras. Como tão sábia mensagem não chegou a todo o planeta, como nenhuma chegará, Anne terá de vir a ser educada pelos pais, avós e amigos para ser mais ambientalista e interventiva do que foram os avós outrora, e do que são seus pais agora.
O mundo tem regras simples de entender, embora difíceis de cumprir, mas num planeta finito há limites inultrapassáveis. Como o futuro de todos depende do comportamento de cada uma das espécies que existem na Terra, a que julga ser a mais inteligente de todas sabe bem o que deve fazer agora, e como deverá atuar sempre, para, no decurso dos tempos futuros, preservar a Vida!
