Ocorre em 7 de Setembro os 150 anos do nascimento de Camilo de Almeida Pessanha (nasceu em Coimbra em 7.9.1867 e faleceu em Macau em 1.3.1926 ).
Concluído o Curso de Direito em Coimbra, quase de seguida partiu para Macau onde exerceu funções judiciais e letivas, o que lhe possibilitou colecionar arte chinesa que muito apreciava e que depois doou ao Museu Machado de Castro (Coimbra).
O poeta atribuía grande importância à musicalidade das palavras, sempre atento à escolha dos termos e à sua fonia, para que a dicção decorra natural e sem empecilhos. Não esquece, porém, as sugestões e memórias que essas mesmas palavras e sua sequência induzem – por exemplo, em “Chorai arcadas”.
Gostaria de realçar também a importância que a poesia de Pessanha concede aos olhos que, segundo Esther de Lemos, além de ser a palavra – olhos e seus afins – com mais ocorrências na Clepsidra, constitui também a principal fonte de conhecimento: a poesia vive de imagens visuais, as que passam na retina e não se fixam.
Daí que seja uma poesia muito marcada pela transitoriedade e precariedade das coisas e da vida, pela fugacidade e efemeridade de tudo – noção que se esconde no título Clepsidra, escolhido para o seu livro e que a cada passo é dada pelo suceder das estações e pelo fluir das águas.
Trata-se de uma poesia sensível à cor, ao som e a luminosidade que estão na origem de muitas imagens e da temática a que o poeta recorre: imaginário cavaleiresco e das caravelas, de desilusão da pátria, de paraíso perdido.
Na poesia de Camilo Pessanha encontramos uma relação dinâmica, ou até conflituosa, entre desejo e prazer: apenas o desejo deve ser vivido, sem nunca o concretizar, com recusa do prazer, como coisa instável e ilusória. A realização do prazer, em sua opinião, não passa de aspiração falsa, porque constitui a morte do desejo e do sonho, como bem expressa o poema “Se andava no jardim”.
Muitos dos poemas de Camilo Pessanha parecem traduzir o desejo de caminhar para a impassibilidade e quietude – uma espécie de cansaço e de inutilidade em lutar contra o passar do tempo. Procura a anulação ou superação de sentimentos e dores, a caminho da quietude ou morte que não é mais do que a capacidade de não sentir, como mostra a quadra final do poema “Porque o melhor, enfim”: «E eu sob a terra firme, /Compacta, recalcada, / Muito quietinho. A rir-me / De não me doer nada».
Camilo Pessanha – pessoa que se apaga, que é avessa a protagonismos e que tem relutância a deixar-se fixar fotograficamente – é todavia o maior, mais harmonioso e mais autêntico poeta simbolista português. Recebe significativa influência do simbolista francês Verlaine e, por seu lado, a sua poesia – apesar de diminuta – teve forte repercussão e influência na poesia portuguesa.
São seus devedores confessos Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade. E o último refere mesmo que, se tivesse de ir para um lugar isolado e sem comunicação com ninguém e só pudesse levar dez livros com ele, um dos que escolheria era sem dúvida a Clepsidra de Camilo Pessanha.
Com grande gosto aqui faço a merecida evocação do nascimento de Camilo Pessanha – um poeta que muito tem a ver com Coimbra e que à cidade doou o seu espólio. E à comemoração se associa o Rotary Club de Coimbra que, para o dia de hoje ( 7 de setembro), promoveu uma conferência sobre o poeta, no Hotel D. Inês (21h30).