Opinião: Espíritos ilustrados

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José Fernando Correia

 

A morte, bem recente, de Simone Veil passou sorrateiramente nos mass media nacionais. Já o passamento de Helmut Kohl, uns dias antes, tinha suscitado, entre nós, pouca consternação. Simone Veil, política francesa sobrevivente do shoah, doutrinariamente colocada no centro-direita, foi a primeira mulher presidente do Parlamento Europeu e uma europeísta convicta. De Helmut Kohl recordamos o impulso na reunificação alemã e a visão da Europa enquanto espaço de paz e prosperidade ancorado na centralidade do chamado eixo franco-alemão.

Vale a pena recuperar essas individualidades no que elas contribuiram para aquilo que chamarei a “ilustração europeia”, tão celebrada por Thomas Mann ou, num exemplo recente, por Rob Riemen. É que o nível de bem-estar e segurança de que (ainda) dispomos não é acaso. É o fruto do labor de políticos da craveira dos que referi.

E o que é que caracteriza a acção desses políticos? A meu ver, é a abordagem não sectária e adogmática do fenómeno político e das funções do Estado. Uma abordagem que ultrapassa a dicotomia, de inspiração mais revolucionária do que reformista, entre esquerda e direita, liberalismo e intervencionismo. Uma concepção da política que se centra num equilíbrio bem afinado entre eficiência económica, liberdade individual e justiça distributiva. O problema, afinal, não é o de eles morreram. Isso é a ordem das coisas. É sim o de não se lhes entreverem sucessores.

 

José Fernando Correia, economista

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