Opinião – É tão fácil lançar boatos

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Bruno Paixão

Muitos dos ventos soprados pelo estio da atualidade expõem como incontornável que a informação passou a ser veiculada já não apenas pelos media convencionais, mas sobretudo pelas redes sociais e pelas mensagens instantâneas.

Pese embora as virtudes das redes sociais e a rápida fluidez de informação que proporcionam, a proliferação de boatos e de notícias falsas nestes canais tem-se revelado preocupante. A forma como o feed de notícias funciona tem sido decisiva para que informações falsas tenham alcance e augurem legitimidade. Este e outros motivos têm sido apontados para explicar a ascensão da pós-verdade, termo que entrou em uso corrente para decifrar este tempo de realidades alternativas, fake news e proliferação de populismos animosos que entram no goto dos inconformados.

Hoje, o acesso a conteúdos, a sua torrente proliferante e o inerente imediatismo, não têm precedentes. As pessoas, todas elas, ganharam a capacidade de produzir informação e massificá-la. Isso tem revolucionado a sociedade, tal como tem mudado a forma como os cidadãos consomem a informação e digerem as notícias, como escolhem a partir de um caudal abundante e inesgotável de novidades. Os algoritmos pensam por nós e têm a capacidade de escrever mais de duas mil notícias por segundo. Isto, quer queiramos, quer não, mudou para sempre a forma comunicar.

A pós-verdade tem-nos feito refletir sobre as novas formas de comunicação e sobre o desinteresse generalizado dos cidadãos pela política. Esta reflexão estende-se não apenas ao papel do discurso político atual, mas também aos agentes comunicativos envolvidos, como o emissor, o recetor, a mensagem e o próprio canal.

Com efeito, um único tweet consegue mobilizar avassaladoramente as massas. Vejamos algo real que aconteceu: um tweet contendo uma informação falsa foi replicado por 40 seguidores. A expansão surgiu natural, propícia à difusão viral das redes sociais. De tal forma que o efeito propagador culminou com 16 mil partilhas no Twitter e mais de 350 mil no Facebook, isto apenas nos EUA. Este é apenas um entre milhões de casos que ocorrem todos os dias.

Mas como lutar contra a pós-verdade? Sei que não podemos lutar com notas de imprensa, nem com artigos nos jornais. A mentira progride a uma velocidade vertiginosa na rede e é justamente aí que ela tem de ser travada, no mesmo campo. O armamento roubado às Forças Armadas em Tancos também não serve para esta luta. É preciso travar a mentira onde ela é produzida, rotular a reputação de quem a produz, tal como as caixas multibanco tingem as mãos dos assaltantes. Porque a força do rumor ou da mentira está na credibilidade daqueles que a propagam.

A fé que havia nos media e nos jornalistas deixou de existir, é o que vêm sistematicamente comprovando os estudos. Ao jornalismo, impõe-se não apenas noticiar, mas verificar, realizar o fact-checking de forma sistemática, não embarcar em instintos populistas, tabloidistas e de infotainment, manter a independência, escrutinar os poderes. É preciso resistir àquela conveniência perversa na seleção da informação. É preciso resgatar o relato verosímil, deixar que a inteligência triunfe sobre a visceralidade.

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