Há uma cultura na classe política em acreditar que os resultados se conseguem sem que haja uma estrutura de trabalho adequada. Dizemos na área da Qualidade em Saúde que há três dimensões: Estrutura, Processo e Resultado.
No Serviço Nacional de Saúde, é da responsabilidade do Estado a criação de Estruturas (edifício, redes, computadores, equipamentos, fármacos) com capacidade para albergar todos os procedimentos (Processo) que levem à melhor prestação de cuidados de saúde (Resultado). Hoje quero falar de Estruturas.
Relativamente à falta de estruturas gosto de ilustrar com um exemplo caricato: a alegada informatização. Ela não existe. Apesar de ter sido a bandeira de muitos Governos. O que ocorreu foi a troca de uma estrutura barata, caneta e papel, por uma cara, computador e impressora. Nada alterou. Vejamos o caso dos exames complementares de diagnóstico. Eu, Médico de Família, proponho um exame a um paciente, escrevo no computador, imprimo uma folha, assino essa folha. Como se as duas passwords colocadas para dar início à emissão das credenciais de exames não fossem suficientes. Depois, entrego a folha ao meu paciente. Ele dirige-se a um centro de exames convencionado. Feito o exame, o resultado é inserido no computador e entregue ao paciente. Este traz em mão o exame, eu abro o envelope e insiro o resultado num computador. Com azar, nesse dia, o sistema não funciona e tenho de guardar o exame para registar mais tarde. Nada mudou, apenas trocámos a caneta por um equipamento mais caro, mais lento e com maior probabilidade de falhar.
Pergunto-me como se conseguem resultados tão bons, mediante uma estrutura tão medíocre?
As equipas de saúde (médicos, enfermeiros, administrativos, auxiliares) conseguem-no.
O Estado pede a estas equipas que garantam a segurança rodoviária, relatórios para as inscrições nas creches e infantários, a vigilância das situações laborais, o controlo das calamidades, a vigilância dos doentes, a educação aos saudáveis. Estas equipas fazem-no sem estruturas que são da responsabilidade de quem exige estas funções.
Por todo o lado, imperam os locais em que a necessidade de estruturas (edifício, redes, computadores, equipamentos, fármacos) estrangula a qualidade de cuidados prestados.
O teatro de operações é caótico.
Não há condições. Não há estrutura.
No entanto, é pelos resultados brilhantes que as equipas de saúde portuguesas são conhecidas pelo mundo! Imaginem onde poderíamos chegar se a estrutura fosse equiparada à nobreza das equipas de saúde!
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