Opinião: MM – Só podia dar nisto…

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José Augusto Ferreira da Silva

A semana passada Pedro Marques, o Ministro do Planeamento e Infraestruturas, anunciou em Coimbra, Miranda e Lousã o final do sistema de mobilidade Metro Mondego e a sua substituição por um sistema de autocarros, pomposa e enganadoramente denominado de “Metrobus”, a concretizar lá para 2021!

Solução que há muito se adivinhava, mas para que, desde o Governo Passos Coelho, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) foi chamado a realizar mais estudos a acrescer aos já antes realizados e que, ao que se sabe, ultrapassaram os 100!

Estudos classificados como “técnicos” que antes sustentaram uma solução e hoje sustentam outra, ao sabor das conveniências políticas ou dos interesses empresariais e económicos do momento. E, mesmo assim, a “solução” ainda fica dependente de mais estudos, da definição de financiamento, etc.

A “solução” agora proposta, cuja inoperacionalidade e ineficácia já se encontra demonstrada em cidades europeias onde foi implantada, constitui mais um revés para a modernização e reabilitação do tecido urbano de Coimbra e para o sistema de mobilidade da região no seu conjunto.

O que nos fez chegar aqui, mais de 20 anos depois, é relativamente fácil de explicar. A fraqueza das lideranças municipais, que nunca se empenharam verdadeiramente na solução do ”Metro”, associada à fraqueza e falta de capacidade de influência nacional das estruturas locais do PS e PSD; a anacrónica posição do PCP/CDU dividindo as populações da Lousã /Miranda das de Coimbra, em defesa de um sistema anquilosado de carris, chamado “comboio de montanha”; um BE que, de forma bizarra, defendeu ao longo dos anos uma coisa em Coimbra e outra na Lousã, neste último caso associando-se ao PCP e PSD, criaram, em conjunto, indiscutivelmente, o ambiente favorável a este desfecho.

Ao contrário de se ter criado, como a importância do projeto plenamente justificava, um forte movimento social e político a favor da solução “Metro”, cada um puxou para seu lado, na tentativa da sua afirmação partidária ou de interesses particulares, gerando desconfiança e divisão entre as populações.

O que permitiu, por um lado, o adiamento sistemático do projeto e, por outro, a criminosa ação de destruição da infraestrutura existente pelo governo Sócrates, sem que estivessem garantidos os meios financeiros necessários à execução definitiva da obra.
Tudo conjugado, é fácil concluir que só podia dar nisto…

E agora, com o regozijo do PS que, em vésperas de eleições, esquece as posições antes assumidas em defesa do Metro para se vangloriar com a “solução”; com o PCP, o BE e o PSD a terem necessidade de demonstrar algum distanciamento da “solução”, em defesa das aparências, mas com as respetivas candidaturas autárquicas a começarem a conformar-se com ela ou mesmo a apoiá-la. E isto porque todos estão cientes de que o cansaço e a frustração das populações as levará a aceitar a “solução”, qualquer solução, como um mal menor! Compreensivelmente…

Porém, isso não significará que se apaguem da memória dos cidadãos as sequelas de todo este processo. Entre elas, a destruição da centenária linha do “Ramal da Lousã “, deixando as populações dos concelhos da Lousã e de Miranda sem um transporte alternativo decente; e uma Baixa de Coimbra esventrada, de forma inútil, para dar lugar a uma “Via Central” destinada a trânsito rodoviário; quando uma solução como a agora anunciada era perfeitamente compatível com um trajeto pela rua da Sofia, requalificada, como há muito devia ter sido. E ainda, noutro importante plano, a sobrevivência da Sociedade Metro Mondego, sem uma rigorosa auditoria cidadã, que se justifica plenamente face aos elevados fundos públicos consumidos e à inutilidade manifesta da sua ação, como agora se volta a ver.

E depois, por favor, nas próximas eleições não venham as lamúrias face aos números da abstenção!

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