Se as minhas avantajadas dioptrias me não pregaram uma partida, creio ter lido que, na Madeira, Rui Rio se declarou, outra vez, favorável à regionalização do continente. Dezanove anos volvidos sobre o referendo que enterrou o tema, eis que Rio levanta a múmia do sarcófago, no que ao PSD diz respeito…
Tenho em elevada conta o experiente declarante em causa, mas, hoje como então, continuo avesso à ideia, pese embora olhe com tolerância o momento e o local das declarações, considerada a ambição de Rio em liderar o partido; é simpático postular, numa região autónoma, um modelo regional para o País, ao mesmo tempo que evita fazer campanha interna, num momento em que tal poderia ser visto com maus olhos. Trocou o slogan pela sedução, dir-se-ia.
Um dos argumentos lidos para escorar a proposta prende-se com “gastar menos e melhor” do que a administração central. Embora a ideia seja de aplauso imediato, duas dúvidas se levantam: por um lado, sobre a obsessão com a economia e as finanças como explicação para tudo no PSD da era mais recente, quem quer que seja o seu pontífice. E uma palavrinha sobre ciência, educação, cultura, desporto ou turismo? Sinceramente, apesar de entender que nada se faz sem boas contas, não vejo um partido como um gabinete de contabilidade.
Em segundo lugar, vendo com simpatia o elogio que o político portuense fez, na mesma ocasião, aos actuais autarcas, não sei se partilho de uma certeza prospectiva de que teremos melhores e mais poupados políticos.
E pego nesta ponta solta para escorar parte magna da minha objecção. Olhado o panorama político português, o que vejo – sem querer ser descortês – é uma sufocante rarefação de personalidades carismáticas, empolgantes ou sequer com um percurso fora da política que me faça confiar na mundividência e experiência profissional deste ou daquele cidadão. Claro que há excepções, como Rui Rio ou Pedro Duarte (no caso do PSD), mas parece pouco para um partido que debitava valores a cada congresso. Em suma, não sei que currículos teremos para as novas vagas.
Depois assomam-se-me ao raciocínio alguns dos argumentos clássicos: desde logo, olho de soslaio para a criação de uma porção de novos cargos e respectivas prebendas. E nem se diga que, possivelmente, se eliminariam cargos regionais já existentes; sou dos que acredita que um cargo político tem de ter dignidade e condições, sob pena de ser um chamariz para mais mediocridade, o que, paradoxalmente, o encarece.
Ademais, embora não veja aqui sombra de Belzebu, qualquer nova divisão do mapa político – seja esta, sejam os círculos uninominais – deve ser vista com cautela e pouca folia, já que não fica nos livros com que estudaram (?) os nossos legisladores, mas passam a condicionar a vida dos portugueses e, para mais, num território sem grande dimensão. Admito, contudo e neste particular, dar a mão à palmatória, se me demonstrarem que é importante para o desenvolvimento do interior do País.
Aguardo, desconfiado…
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