Estava para escrever este artigo quando me telefonaram para avisar que hoje havia greve dos autocarros. Corrigiram de pronto, dizendo ser a greve dos Médicos.
Eu, desde sempre fui contra as greves, melhor dizendo, contra as greves desencadeadas com o braço no ar, mas a favor, e apenas, por votação secreta. Se assim for, considero um direito inalienável e até como sendo primeiro direito e dever inserido na Constituição.
Não sei qual a legitimidade desta greve que não é desencadeada pela Ordem dos Médicos mas sim pelos sindicatos dos dois modelos.
Reconheço, no entanto, que desde que os directores dos hospitais passaram a ser nomeados, tomando como modelo o passado nos HUC, desde então implantou-se a subserviência e consta-me que até o seu futuro director se foi oferecer para o cargo que antes desempenhou e segundo a minha experiência e valoração, já foi péssimo. Agora, não se poderá esperar melhor exercício do que o anterior.
O último Conselho de Gerência eleito, que aquando da transferência do velho para o novo Hospital passaram a fazer parte dele também o Doutor Júlio e o Engenheiro Moutinho.
Trouxeram para Coimbra o Centro da Medicina Portuguesa. Os doentes do país, e até os mais exigentes, acorriam a Coimbra, mesmo do Porto e de Lisboa.
Agora, estão, novamente, apenas alguns conimbricenses, a recorrer a Lisboa e até ao Porto.
Os directores de serviços e muitos deles e Eles me perdoem, passaram a ser ad hoc – critério de escolha: a subserviência.
O Hospital está a degradar-se. Dou como exemplo o serviço de ortopedia, que ficava entre os melhores da Europa ( 350 camas, 15 salas de operações e criadas todas as sub-especialidades), e que se está a apagar.
Se não fora o Professor Linhares Furtado, tinham ido para o Porto os transplantes de órgão.
Se não fora a Doutora Ana Calvão da Silva tinha seguido o Banco de Conservação de Órgãos e Tecidos para Lisboa, que permitiu que, graças ao Professor Agostinho de Almeida Santos, nascesse em Coimbra o primeiro bebé por fecundação in vitro (hoje, Medicina da Reprodução).
Os doentes, dando como exemplo os traumatizados, como não há leitos em ortopedia, começam a estar dispersos por outras enfermarias.
Os ortopedistas que constam do quadro têm mais de 50 anos. E a renovação? Alguns só têm possibilidade de operar de duas em duas semanas.
Já não quero falar do vencimento…
Desperte Coimbra e a Universidade! Unam-se a partir deste momento e deste apelo! A agonia da saúde é da nossa e vossa inteira responsabilidade.
Noutro tempo, já há algum tempo, escrevi que os governantes, com consentimento do poder local e da sua população, estavam a transformar Coimbra num apeadeiro, que só faltava levar a torre da Universidade para que isso acontecesse… Salvava-se, então, e ainda, a Medicina, e esta está agora quase em agonia.