Opinião: Refletir, refletir

Posted by
Spread the love

António Menano

La Fontaine, cujas fábulas são bem conhecidas, escreveu: “E cada um só acredita /no que deseja e cria”. E assim vamos, ao longo dos tempos, enchendo o mundo das designadas de grandes obras, ensopadas de sangue, cheirando a suor escravo, as pirâmides do Egipto, os templos astecas e maias, a Grande Muralha.

São inúmeros os exemplos, estão por todo o mundo. O mais determinante tem sido as vontades, coletivas por vezes, individuais, de classe, quase sempre. Sejam ou não doentias, ignaras, interesseiras. Dom Hélder da Câmara, que foi arcebispo do Recife afirmou, e não está sozinho: “Não há independência em liberdade económica“. E os interessados saltam para a afirmação: “Quem paga, manda”. Em política: ”Quem vence as eleições, governa”. Sabemos, com prova provada, que nem sempre é assim.

Se o betão, os arranha-céus, as autoestradas substituíram as pirâmides, e até há casos em que os empreiteiros substituíram os faraós, não é coisa de lotaria ou “reality show”, de casa dos segredos fingidos. Afinal, talvez estejamos a entrar num culto dos monólitos cerebrais, socialmente contagiosos. Seja algo ainda indeterminado, existe um permanente efeito cénico, um teatro, uma tragicomédia, a manipulação de medos, anseios, desesperos, dores, faltas das pessoas. Cabe-nos mais do que interpretar o mundo que nos cerca, continuarmos lúcidos, e temermos a “grandiosidade”.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.