A relação entre a palavra e o objecto constitui um ponto fulcral. Da nossa vida quotidiana, da filosofia. O homem vive no meio de palavras: há para todos os gostos, amáveis, irritantes, correctas, oblíquas, as relações que estabelecemos diariamente são feitas com palavras, são as palavras que nos põem em contacto, com os outros e com a coisa.
As coisas não se relacionam entre si, a sua qualidade, a sua substância é-nos dada por palavras. E chegamos à situação da palavra ser muito mais decisiva, importante, do que a coisa que ela designa. Já não representa a realidade. Ela é realidade, em si. Os objectos são formatados pelas palavras. A mentira é construída por palavras, os factos idem. Mesmo quando são mentiras, verdades “alternativas”, nascem de palavras.
Quem deseja ser Deus, fazer “objectos”, chegar-lhe, criar ilusões, sabe que a palavra, o seu uso, a sua representação (a escrita) são o centro de todas as relações humanas. Quando não há palavras, há gestos, que significam, dão significado às coisas, às situações. As ditaduras, por sabê-lo, criam a censura, queimam livros, fecham locais onde se aprende a usar as palavras. Niekrássov, um poeta russo escreveu: “As palavras persuasivas podem retirar das trevas do erro a alma degradada”. O péssimo é quando as palavras empurram para as trevas.