Opinião: Tereso – um herói (quase) desconhecido

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Francisco Queirós

No passado dia 7 de Janeiro faleceu António Tereso. A morte deste português não foi noticiada nos grandes meios de comunicação.

António Tereso começou a trabalhar aos 12 anos, ingressando mais tarde na Carris.

Em Fevereiro de 1959 foi preso e condenado a dois anos e três meses de prisão. Na prisão de Caxias desempenhou um papel determinante na preparação da fuga de dirigentes comunistas no carro blindado de Salazar.

A 4 de Dezembro de 1961, às 10 da manhã, oito destacados militantes comunistas, José Magro, Francisco Miguel, Domingos Abrantes, António Gervásio, Guilherme de Carvalho, Ilídio Esteves, Rolando Verdial e António Tereso, fugiram com êxito do Forte de Caxias num velho Mercedes à prova de bala, oferecido por Hitler ao ditador Salazar.

Do pátio interior do forte rodeado de taludes e de carcereiros armados com os olhos postos nos movimentos de cada preso, num abrir e fechar de olhos, os presos saltaram para dentro de um carro e desapareceram.

Fora necessário cerca de um ano de preparação da fuga. Soubera-se que se encontrava na garagem da cadeia um Mercedes à prova de bala.

Nas prisões, alguns presos, a troco de pequenas regalias, cooperavam com os carcereiros dispondo-se a fazer alguns serviços. Chamavam-lhes “rachados”. A organização do PCP na cadeia avançou com a ideia de arranjar um falso “rachado”, alguém sério, corajoso, capaz de assumir tarefas difíceis e arriscadas.

A escolha recaiu em Tereso, com conhecimentos mecânicos e outras capacidades. Não foi fácil convencê-lo. Ele não aceitava a ideia de ser “rachado”, mesmo a fingir. A Pide, desconfiada, demorou tempo a ser convencida. Tereso começou por arranjar os carros da cadeia, depois os carros do director do Forte e de alguns Pides. Não tardou a chegar ao Mercedes.

Passaram-se meses. A fuga foi prevista para antes das 10 horas da manhã, porque depois dessa hora chegavam ao portão familiares dos presos para as visitas. A casa da guarda ficava no meio do túnel que dava acesso ao pátio do recreio dos presos e ao portão do exterior. No dia da fuga o túnel estava fechado.

A 4 de Dezembro de 1961, às nove e pouco da manhã, a Pide abriu a porta para o recreio. No recreio os presos jogavam voleibol. A GNR observava-os. Poucos minutos depois o Mercedes conduzido por Tereso subiu o túnel em marcha atrás. Os presos fingiram protestar, os guardas sempre atentos, aproximaram-se do carro cujas portas só estavam encostadas.

Ouviu-se o grito da senha: GOLO! E em breves segundos, os fugitivos entraram no Mercedes que, em grande velocidade, avançou pelo túnel em direcção à liberdade. O carro arrancou, embatendo no portão que saltou em pedaços. Ouviram-se tiros de metralhadora. As balas faziam ricochete no carro.

Os carcereiros correram em busca dos carros da cadeia, mas nenhum deles trabalhava. Estavam todos avariados!
Em apenas 10 minutos, os oito fugitivos estavam em Lisboa. Cada um seguiu o seu rumo para a luta clandestina. O Mercedes ficou estacionado na Rua do Arco do Carvalhão, até a Pide o ir buscar.

No dia 7, faleceu António Tereso. Foi a sepultar um herói, sem especiais honras, nem manchetes de imprensa. Com a consideração dos seus e dos que conhecem a sua história. Há homens assim. O povo quando os conhece respeita-os. Foi por este reconhecimento e gratidão que o povo português saiu às ruas de Lisboa no dia 15 de Junho de 2005, no funeral de Álvaro Cunhal. Então, dezenas de milhares de portugueses.

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