Opinião: Mudando de atitude

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Aires Antunes Diniz

Os acontecimentos que vivemos no ano passado foram muito esclarecedores. Mostraram que a austeridade não era uma inevitabilidade, mas sim uma consequência direta de governos, que obedeciam a ditames externos, que nos agrilhoavam a políticas, que nos empobreciam continuamente.

Era o que também tinha acontecido durante o tempo de submissão aos Filipes, queixando-se disso os procuradores de Penamacor em 1641/1642 pois “A Câmara da dita vila antigamente, quando tinha bons rendimentos, prometeu dar em cada ano trinta mil reis para a arca dos médicos da Universidade de Coimbra, dos sobejos das rendas do concelho, e até agora os pagou, mas com o pedido que El-Rei o Filipe fez para o Monte da Piedade, e outros …veio a estado que não tem donde possa pagar …” .

Também, durante o período de austeridade, fomos assistindo à degradação das condições de funcionamento das funções sociais do Estado, prometendo os governos que iam salvar o sistema financeiro, mas tal não aconteceu pois houve a debacle do BES, do BANIF e a situação da CGD tornou-se periclitante.

O problema era de facto a falta de controlo do regulador e do Estado sobre um deveras estranho comportamento dos banqueiros, que vendiam papel comercial sem valor, exaurindo assim os recursos financeiros gerados pela poupança dos portugueses e criando problemas de liquidez em empresas estratégicas portuguesas.

Enquanto isso o sistema de ensino público era degradado, e só para que os colégios privados tivessem um suplemento de apoios e ultrapassassem nos rankings as Escolas Públicas, prejudicadas no seu funcionamento pelas políticas abstrusas de Maria de Lurdes Rodrigues e Nuno Crato, tal como evidenciam os resultados visíveis dos desempenhos dos estudantes, contrariados em parte pelos números evidenciados na aplicação a estes do PISA, mas só em comparação com outros países.

A má gestão do sistema de Saúde é agora comprovada pelas investigações policiais, que mostraram o descontrolo das contas para permitir crimes ignóbeis no caso dramático do sangue. Entretanto, para que houvesse dinheiro para esta gente, aumentaram os descontos para a ADSE e reduziram o emprego do pessoal de enfermagem e de auxiliares, causando o caos nos hospitais e aumentando o stress dos médicos e demais profissionais.

Tudo isto mostra a importância da cidadania ativa para combater estes comportamentos adversos ao interesse nacional, já que ficou comprovado como alguns governantes tinham uma agenda escondida, que nos fragilizava como país independente e progressivo.

Penamacor – Capítulos particulares dos procuradores da Vila de Penamacor às Côrtes de 1641 e 1642, in Subsídios para a História Regional da Beira-Baixa, volume 1, Edição da Junta de Província da Beira Baixa, Castelo Branco, 1944, p. 204.

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