Escrevi-te, no ano passado, a pedir saúde para os Portugueses e no pacote incluí um médico de família para cada um, com consultas quando necessitassem, com paciência e disponibilidade para os ouvir, com capacidade para em conjunto decidirem o que seria melhor para a sua saúde e motivação para os ajudar a aplicar isso nas suas vidas.
Este ano, e já que não vejo grandes melhorias, como acho que poderá ter sido difícil de perceber o pedido, vou tentar fazer um “desenho”. E não, não te vou obrigar a ir ao teu médico de família pedir uma declaração em como tens capacidade para compreender as cartas que te escrevem.
Mas olha que, já agora, aproveitavas e pedias um atestado para a licença para condução de trenó porque, a partir de Janeiro, o processo vai ser informatizado e será difícil conseguir todos os pareceres pedidos na lei atempadamente e, se demorares muito tempo a ter a carta, ficaremos todos sem prendas no próximo Natal…
Poderia ser interessante a tua experiência porque, para obter estes papéis, terias de te confrontar com a dificuldade em arranjar um pouco do tempo do teu médico de família para te passar os ditos, e sentir-te-ias mal por ter tirado esse tempo à tua saúde e à saúde dos outros. Mas, assim, talvez pudesses compreender melhor o que tenho para te pedir este Natal.
Provavelmente a maioria das pessoas escrevem-te cartas a pedir mais coisas, pois eu escrevo a pedir menos. Menos papéis, por favor. Menos burocracias para os médicos de família e menos papeladas para os Portugueses. Isto porque temos de escolher: ou queremos um médico de família com tempo para nos ouvir, compreender e responder aos nossos anseios e ajudar-nos a ultrapassar os nossos problemas relacionados com a saúde, ou queremos um médico-escriturário-notário-administrativo que nos enche com papéis, baixas, vinhetas, receitas, credenciais, atestados e declarações para levar para todos os serviços, instituições, patrões e familiares.
Parece-me que este desejo simples (mas que parece tão complicado em Portugal onde certamente se alimentam muitos postos de trabalho com tarefas e papéis desnecessários) poderia ser um grande passo na direção do que te pedi no ano passado: mais saúde para os portugueses. Isto porque libertando o tempo que os médicos passam a passar papéis desnecessários, eles teriam mais tempo para se centrar nas necessidades de saúde das pessoas.
Quem não foi já ao médico de família pedir um papel urgentíssimo? Certamente mais pessoas do que as que foram por um problema de saúde que precisava de ser visto com urgência. E quando foram, muitas vezes, não foi visto com a rapidez que precisaram porque o dito médico estava entupido com pedidos de papéis, e tiveram de recorrer aos serviços de urgência que se adivinham cada vez mais cheios por estas alturas do Natal.
E, nas vezes seguintes, já pensam duas vezes se vão ao centro de saúde tentar a sua sorte. Porque estarão todos certamente muito ocupados com os papéis-urgentes-que-só-eles-podem-passar. E de qualquer forma, quem é que quereria ir a um médico que só tem 10 minutos para as nossas preocupações de saúde mas precisa de mais de 1 hora por dia para passar os papéis que os regulamentos obrigam a passar em 3 dias úteis?
Então, espero para o ano te poder escrever agradecendo os esforços estratégicos neste sentido, e que este Natal seja um verdadeiro SIMPLEX na saúde. Porque se não tratares da saúde aos papéis que tiram o tempo aos médicos para serem médicos, não são eles certamente que nos vão tratar da saúde.