A memória é curta. Junta-se memória curta com a voracidade que se vive entre os agentes políticos, e resulta o conceito de descartável.
Não importa muito que o acto de governar um país como Portugal é sempre função de circunstâncias e condicionalismos. Pouco interessa agora recordar que Portugal, nós, há 5 anos , estivemos à beira da bancarrota e sem dinheiro para pagar as pensões e salários do Estado, no mês seguinte.
Se não houvesse ajuda externa, o país teria colapsado, o Estado teria deixado cair os seus compromissos, arrastando a economia e provocando uma derrocada geral. Recebemos ajuda externa -78 mil milhões de Euros – e tivemos de assinar um memorando em que havia muitas medidas para cumprir.
À medida que se cumpriam, as tranches do dinheiro iam chegando. Pode ter havido má comunicação, mas , como diz o povo, quando as notícias não são boas, a comunicação é sempre má. Mas, apesar de tudo, tivemos um PM que resistiu a quase tudo, mantendo o rumo, sujeitando-se à impopularidade da maioria das medidas, enquanto muitos, incluídos os que nos tinham trazido à quase tragédia, assobiavam para o lado e procuravam permanentemente descolar-se dessa sujeição.
Houve à mistura, más decisões , mas no final, conseguimos ultrapassar a fase da troika e em 2015, o país até teve um indicador de crescimento muito aceitável. Hoje, poucos recordam o esforço feito. Parece tão longínquo que quase todos os actores políticos falam como se quem governou não o tivesse realizado cheio de condições e, sempre, com o limite financeiro presente.
Hoje, felizmente, é possível repor salários, repor feriados, consertar algumas políticas sectoriais. Mas, tal só é possível porque as condições financeiras de Portugal mudaram e houve alguém que se sujeitou e teve responsavelmente de agir e salvar Portugal. Há um único problema. A dívida do Estado continua a crescer e já é 133% do PIB, cerca de 230 mil Milhões de Euros , e os juros são quase de 4%.
Ora quem deve isto, ou cresce o suficiente , ou tem problemas a prazo. Como crescer significa competitividade e produtividade, se tal não for percebido pela sociedade, mais cedo do que tarde, alguém vai ter de nos salvar novamente. Não, não é pessimismo. É a pura realidade. Se os juros subirem mais, por uma qualquer razão ou externalidade, dificilmente conseguiremos aguentar.
É bom ter feriados, comemorar a restauração da independência de 1640, apesar da maioria dos nossos jovens nem sequer saberem porque é que ontem ficaram em casa. Mas, com mais ou menos cerimónia, deveria haver memória. No dia 1 de Dezembro, parámos porque houve alguém fez o que tinha a fazer , com a alternativa de saída da zona Euro, sempre pendente, aliás um desejo explícito dos novos apoiantes do novo governo.
Ouvia os telejornais e o que se idolatrou foi a “coragem” da decisão de reverter o feriado, em contraponto com a falta de sabedoria de quem governou. A memória é mesmo curta. Valerá , daqui a uns anos, a história que deverá ser escrita sem emoções políticas , nem a olhar para sondagens.