Visões Úteis estreia em Coimbra peça sobre a atração pela guerra e suas memórias

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O Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), em Coimbra, recebe na quarta-feira a estreia absoluta da peça da companhia Visões ÚteisRomance da Última Cruzada“, onde se fala da atração pela glória no conflito e das memórias coletivas e individuais da guerra.

A peça articula-se à volta de uma imagem de um soldado ferido, “abandonado, à espera de ser salvo pelos seus camaradas”, explica à agência Lusa um dos criadores, Carlos Costa, referindo que o espetáculo de 70 minutos acaba por se passar naquele “segundo” “em que o soldado olha para o pelotão”.

Nos 70 minutos, três atores vão abordar a atração pelo conflito, mas também os relatos e a própria construção de realidades, a partir da memória individual e coletiva, “o arquivo e o mito”.

Como nota Carlos Costa, o espetáculo centra-se “na atração pela glória que se pode encontrar no conflito”, seja nos jovens que partem para a Síria e Iraque para se juntarem ao Estado Islâmico (EI) ou na ida de cavaleiros em direção à Palestina, durante a Idade Média, aponta.

“Os extremos tocam-se e há um fascínio, um entusiasmo, pela experiência bélica e pela glória”, com as representações que os jovens do autoproclamado EI fazem “de si” a não serem “muito diferentes do furor que os cruzados sentiam há mil anos, quando relatavam o modo como os seus pés se ensopavam no sangue dos infiéis quando entravam em Jerusalém”, salienta o também membro da direção artística da companhia Visões Úteis, sediada no Porto.

Para criar a peça, os criadores do texto, Carlos Costa e Ana Vitorino, foram à procura de relatos de experiências de guerra, como o “Romance”, de Vivian Gilbert – ator que combateu na 1.ª Guerra Mundial e que falou da sua experiência num livro e num espetáculo -, o Manual de Recrutamento do Estado Islâmico, relatos de pessoas que participaram na 1.ª e 2.ª guerras mundiais e na Guerra Colonial, romances medievais de cavalaria, documentários ou até o jogo “Call of Duty”.

No processo de pesquisa, foi “surgindo um interesse muito grande pelo que fica no meio, entre a experiência concreta e aquilo que se conta”, aclara Carlos Costa, exemplificando com o caso da Guerra Colonial onde se depararam com diferenças entre o que “as pessoas sabiam da experiência dos familiares e os dados encontrados em arquivos”.

“Há uma zona entre a realidade da experiência e o caráter mitológico que é contado de geração entre geração”, sublinha.

Um soldado, ao falar do que tinha passado, “escrevia uma ficção que correspondesse às expectativas”, aclara.

No caso da Guerra Colonial, “muitas vezes, pessoas que regressavam de África não tinham muito para contar, para além da insalubridade, falta de higiene e sofrimento. Muitas vezes não havia nada de heroico ou glorioso e, para falar do sofrimento, que era real, criavam-se histórias de combate e de heróis em ação que correspondessem às expectativas das pessoas que cá estavam”, frisa Carlos Costa.

A peça, que é uma coprodução da Visões Úteis, TAGV e Teatro Municipal de Vila Real, estreia-se na quarta-feira, às 21:30.

Depois de Coimbra, o “Romance da Última Cruzada” vai estar de quinta-feira a domingo no Armazém 22, em Vila Nova de Gaia, a 09 de dezembro na Casa da Cultura de Setúbal e a 31 de março de 2017 no Teatro de Vila Real.

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