Opinião: Os vouchers e o Benfica

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Santana-Maia Leonardo

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Dois em cada três portugueses são do Benfica. Isto é garantido pelos próprios benfiquistas. Basta ouvi-los falar no café ou na televisão. E mesmo admitindo que o Benfica ainda não tenha atingido este número, não tardará muito em alcançá-lo, tendo em conta a apetência natural dos portugueses por se colarem às maiorias vencedores, sejam elas quais forem.

E se acrescentarmos a isto a paixão clubística, a irracionalidade e o fervor religioso de que os benfiquistas tanto se gabam, forçoso será concluir que o Benfica, ao contrário dos outros clubes, não necessita de corromper ninguém para ser naturalmente favorecido.

Basta tão-só que os seus fervorosos e fiéis adeptos, onde quer que exerçam funções (dirigentes, jogadores e adeptos das equipas adversárias, árbitros, observadores, dirigentes federativos, jornalistas, funcionários públicos, magistrados, polícias, etc), contribuam activamente para as vitórias do seu clube do coração.

Neste contexto, os vouchers para quatro refeições sem limite de preço por cada árbitro e cada observador (ainda que bem mais valiosos do que aquela tão famosa prenda dos pequenos apitos em ouro que eram dados apenas aos árbitros) só podem servir para recordar, no final de cada jogo, as vantagens de se ser benfiquista ou, caso não se seja, de não se afrontar o Benfica e assim ali se poder regressar, sem correr o risco de ser vetado, para receber mais umas refeiçõezinhas. (E ainda dizem que não há fome neste país!…).

Ninguém questiona aqui nem a grandeza do Benfica, nem o bom trabalho desenvolvido por Filipe Vieira na recuperação do prestígio do clube, nem a qualidade do treinador Rui Vitória que, na minha opinião, é superior a Jorge Jesus, porque tem aquilo que falta a este e que é essencial num líder na hora da verdade: o controlo emocional.

Agora, há uma coisa que é impossível de escamotear: não é possível haver verdade desportiva, como resulta claramente do estudo da UEFA, se um dos clubes participantes tem maioria absoluta dos adeptos desse país. O mesmo aconteceria se o Barcelona disputasse o campeonato da Catalunha.

Chegados aqui só vejo uma solução para termos um campeonato competitivo e asseado: o nosso campeonato passar a ser disputado pelas Casas do Benfica. Sendo certo que esta solução, dada natural subserviência dos portugueses em relação a Lisboa, também não é segura, uma vez que o mais certo seria os adeptos do Benfica de Coimbra, Faro ou Vila Real passarem a torcer pela Casa de Lisboa, em vez de torcerem pela Casa do Benfica da sua terra.

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